A pressão no câmbio não deu trégua na quarta-feira, e o dólar renovou a máxima de fechamento ante o real em mais de três anos. Novamente, a demanda de estrangeiros no mercado futuro e saídas de recursos pela conta financeira, em meio a nova queda do Ibovespa, pesaram sobre o real e impuseram à moeda brasileira um desempenho pior que o de seus pares internacionais.
A preocupação com o fluxo cambial ao país, que tem se mostrado cadente, levou o governo a adotar mais uma medida de estímulo à entrada de capital. Após o fechamento dos mercados, o BC informou que permitirá que as empresas recebam pré-pagamento à exportação com prazo superior a cinco anos. Em dezembro passado, mês em que o fluxo cambial foi negativo em quase US$ 6,8 bilhões, o BC havia elevado de um para cinco anos o prazo máximo para a contratação desse instrumento, conhecido como PA.
No fechamento, o dólar subiu 0,84%, a R$ 2,269, maior patamar desde 1º de abril de 2009, quando encerrou em R$ 2,28.
Para o diretor de câmbio da Intercam Corretora, Jaime Ferreira, a medida reflete a preocupação do governo com a deterioração nas perspectivas para o fluxo, mas não altera significativamente o cenário adiante.
"Acho que o BC está no caminho certo, tirando essas amarras à entrada de capital. Mas o problema é que essas medidas têm vindo muito tarde, quando o problema já está instalado", diz, prevendo que o dólar deve sofrer um alívio apenas "pontual" nos negócios de hoje.
"O BC evitou intervir no mercado hoje [ontem], mesmo com o dólar claramente descolando do movimento lá de fora. Amanhã [hoje], se a pressão no câmbio continuar, ele vai ter que intervir. Caso contrário, o mercado pode fazer queda de braço e puxar esse câmbio para perto de R$ 2,30", diz.
Recentemente, o governo zerou a alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) que incidia sobre aplicações de estrangeiros em renda fixa. Zerou também o IOF sobre aumento de posições vendidas em derivativos cambiais e isentou os bancos de recolher ao BC compulsório sobre o que excedesse posição vendida em dólar à vista a partir de US$ 3 bilhões. O governo ainda cobra IOF sobre captações externas com prazo menor que um ano.
Os números divulgados pelo BC ontem reforçaram a fragilidade do cenário para as entradas de capital. Após um mês de maio mais robusto, as saídas de dólares superaram as entradas em US$ 2,636 bilhões em junho. É o pior saldo para um mês desde dezembro passado (-US$ 6,755 bilhões) e o mais fraco para meses de junho desde 2010, quando houve déficit de US$ 4,279 bilhões.
Principal suporte do fluxo em maio, o câmbio contratado para operações comerciais foi o vilão de junho, ficando negativo em US$ 1,865 bilhão - o pior para um mês desde janeiro passado (-US$ 4,755 bilhões) e o maior déficit para meses de junho desde o início da série histórica do BC (1982). Do lado das operações financeiras, o déficit em junho (-US$ 771 milhões) foi menor que o de maio (-US$ 3,343 bilhões). Mas fica clara a piora quando o desempenho dessa conta é comparado com um ano antes, quando o fluxo financeiro ficou positivo em US$ 1,280 bilhão.
No mercado de juros futuros, o pregão foi de volume reduzido e de oscilações modestas nas taxas de DI. Os contratos mais curtos embutem a perspectiva amplamente majoritária de alta de 0,50 ponto da taxa básica na próxima semana, para 8,50%. Saiu de cena a aposta de taxa básica em dois dígitos este ano. O DI de janeiro de 2014 fechou com taxa de 8,84% (mesma de terça-feira), indicando a probabilidade de elevação da Selic até 9,50%. Com a atividade deprimida e a perspectiva de que o PIB feche o ano com alta de cerca de 2%, o mercado de juros futuros passou a desconsiderar um aperto monetário mais forte, mesmo com o BC trabalhando sem a ajuda de um ajuste fiscal crível. Mais líquido do dia, com cerca de 238 mil contratos negociados, o DI de janeiro de 2015 fechou a 9,64%, leve queda.
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