terça-feira, 29 de junho de 2010

Precisamos crescer sempre ?

A necessidade de crescimento e desenvolvimento é um dogma em economia..
Além de ninguém definir o que seja desenvolvimento e do "porque" e "pra que" toda esta corrida.. o questionamento a respeito não avança pois:
Em momentos de crise, ninguém discute pela necessidade de sair da crise..
Em momentos de sucesso, ninguém discute em time que está "vencendo.."

Acha-se que crescer abaixo do crescimento populacional vegetativo seria diminuir qualidade de vida, sem se definir o que seja isto (todos terem uma "moto bala" na garagem ??)..

Uma entrevista interessante, com pontos questionáveis, a respeito disto na revista Scientific American cujo tema seria o da moda: Crescimento Sustentável com Bill McKibben..


Nildson (Nids)
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DESAFIO A BILL McKIBBEN: O CRESCIMENTO ZERO REALMENTE É NECESSÁRIO ?

A sociedade sempre se sustentou localmente até a Revolução Industrial, quando teve início uma marcha inexorável rumo a economias maiores e centralizadas. Em Eaarth: making a life on a tough new Planet, Bill McKibben afirma que agora o crescimento implacável está arruinando o globo, e é a manutenção da riqueza e dos recursos, e não a expansão, que deve ser o novo propulsor da sociedade, ou ela perecerá. Abaixo, o editor Mark Fischett questiona suas afirmações.

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Scientific American: Basicamente, sua mensagem é que a humanidade precisa desistir do crescimento como modus operandi. Por que não podemos apenas crescer de forma mais inteligente?

McKIBBEN: Certamente podemos agir com mais eficiência, e deveríamos. Mas isso não basta. Estamos afinal atingindo os limites de crescimento sobre os quais as pessoas têm falado desde os anos 70, e o que vemos são mudanças ambientais assombrosas. Poucas pessoas conseguiram aceitar isso.

SA: Um crescimento zero, absoluto, é necessário, ou uma expansão "muito sutil" seria sustentável?

McKIBBEN: Não sou um utopista. Não tenho nenhum plano sobre onde o mundo deveria se apoiar. Um número especifico não faz parte da análise. Estou mais interessado em trajetórias: o que acontecera se nos afastarmos do crescimento como resposta a tudo e rumarmos em uma direção diferente.Estivemos tão envolvidos no experimento de crescimento que tentamos pouquíssimas outras opções. Podemos medir a sociedade com outros meios. Alguns países mensuram a satisfação.Se medirmos o mundo de outras maneiras, o acumulo individual de riqueza torna-se menos importante.

SA: O sentido subjacente aqui é que grandes sistemas centralizados, monolíticos, de agricultura, energia e outras formas de comércio, impulsionam o crescimento. O senhor está afirmando que grande é ruim?

McKIBBEN: Construímos as coisas em grande escala porque isso permitiu um crescimento mais rápido. A eficiência foi conquistada por meio do tamanho. Não é disso que precisamos agora. Não necessitamos de um cavalo de corrida, criado primorosamente para correr o mais rápido possível, mas cujo tornozelo se quebra assim que há uma falha na pista. Precisamos de um cavalo de tração, concebido para ser resistente. Nosso mantra tem de ser a durabilidade, não a expansão.

SA: O vilão é apenas o tamanho, ou a complexidade que ele gera? O senhor afirma que não apenas os bancos, mas as indústrias mais básicas são grandes demais para fracassar". Essas instituições devem ser dissolvidas ou extricadas de alguma forma?

McKIBBEN: Os sistemas financeiro, energético e agrícola compartilham grandes similaridades: um número muito reduzido de envolvidos, incrivelmente interligados. Em cada caso, ocorrem efeitos cascata quando algo dá errado; uma torta de frango com legumes que transmite botulismo para 48 estados. Minha casa funciona com painéis solares. Se eles falharem, tenho um problema, mas isso não derrubará a rede de energia no leste dos Estados Unidos.

SA: Então o senhor defende uma volta à dependência local. Mas desde o lançamento do livro "O negócio é ser pequeno", de E. F Schumacher, em 1973, pessoas dedicadas vêm tentando implantar sistemas locais de produção de alimentos e energia ao redor do mundo. Entretanto, muitas regiões ainda enfrentam dificuldades. O que significa local em termos dimensionais?

McKIBBEN: Descobriremos o tamanho. Pode ser uma cidade, uma região, um estado. Mas, para encontrar a resposta, precisamos eliminar do nosso atual sistema os subsídios, que distorcem incrivelmente.Eles emitem todo tipo de maus sinais sobre o que deveríamos fazer. Com relação à energia, aprovamos o combustível fóssil durante muito tempo. A situação é ainda mais escandalosa na agricultura.Uma vez que o fluxo de subsídios seque, poderemos descobrir que escala industrial faz sentido.

(???????? Não está claro a ligação de subsídio ao contexto anterior... faltou perguntar sobre isto ?????????? == Nids)

SA: Os produtos locais não custam mais caro? (boa pergunta.. == Nids)

MCKIBBEN: Teríamos mais fazendas, que poderiam ser mais intensivas em termos de trabalho, mas isso criaria novos empregos e o fazendeiro ficaria com uma fatia maior do rendimento. Economicamente,propriedades locais eliminam muitos intermediários. Comprar vegetais de empreendimentos agrícolas sustentados pela comunidade (CSA, na sigla em inglês) é o meio mais barato para conseguir alimentos. A carne ainda pode ser mais cara, mas, francamente, consumi-la mais moderadamente não é o fim do mundo.A melhor notícia em meu livro é a disseminação, nos últimos anos, de todos os tipos de técnicas agrícolas de pequena escala, engenhosas e eficientes, ao redor do mundo em desenvolvimento.

SA: Parece que a chave, pelo menos para a agricultura local, é ensinar as pessoas a aumentar o rendimento sem utilizar mais fertilizantes...

MCKIBBEN: Sim, e isso depende de onde a pessoa está. Não haverá um único sistema que se espalhará por todo o mundo, do jeito como tentamos difundir a agricultura industrial, baseada em fertilizantes sintéticos. As soluções são muito mais inteligentes que isso. Em vez de disseminar substâncias químicas, que provocam todos os tipos de problemas, estamos desenvolvendo métodos alternativos e meios para difundi-los.

(???? O problema é know how.. a difusão da agricultura industrial ocorreu porque ela é competitiva, para a pequena agricultura falta alguma fórmula para torná-la competitiva.. faltou levantar esta questão.. ???? == Nids)

SA: Certo. Mesmo que uma agricultura local funcione, como isso promove a durabilidade em vez do crescimento ? (finalmente outra boa pergunta.. == Nids)

MCKIBBEN: Provavelmente, os bens mais importantes que poderemos ter para atingir uma estabilidade em longo prazo, em particular em uma era de revolução ecológica, são solos de boa qualidade. Terras que permitam produzir uma boa quantidade de alimentos, que consigam absorver muita água, já que os índices de chuva estão aumentando de forma constante; solos capazes de reter essa umidade durante os prolongados períodos de seca que estão se tornando mais comuns.Um solo bom é precisamente o que uma agricultura local, de baixo impacto e poucos insumos, constrói e é exatamente o que a agricultura industrial destrói.

(?? O problema é know how de novo sobre a tecnologia de manejo do solo... == Nids)

SA: A dependência local parece atraente, mas de que forma países como os Estados Unidos saem de enormes dívidas sem crescer? O Departamento do Tesouro americano afirma que a única solução indolor é crescer. Necessitamos de um período de transição em que o crescimento elimina a dívida para depois adotar a durabilidade?

MCKIBBEN: Bem, indolor é apenas adiar. Voce sabe Pague-me agora ou pague-me depois . A principal questão política é: podemos fazer com que as mudanças ocorram rápido o bastante para evitar colapsos generalizados, não apenas plausíveis, mas prováveis ? Como promovemos essas transições mais rapidamente do que elas podem ocorrer?

(... respondeu perguntando.. hehehe == Nids)

SA: Qual a primeira e mais importante medida a ser tomada ??

MCKIBBEN: Mudar o preço da energia para refletir os danos que ela provoca no meio ambiente. (boa.. !! == Nids) Se o combustível fóssil incluísse esse custo, veríamos que esses novos sistemas e transições ocorreriam muito mais rapidamente. Um teto de carbono que eleve seu preço é uma condição sine qua non, indispensável, para conseguir fazer qualquer coisa.

(.. de fato, muitos custos não aparecem na planilha de preços... mas e tutano político para isto ?? == Nids)

SA: Um preço para o carbono é de difícil persuasão...

MCKIBBEN: Não existe uma saída fácil para nossos problemas. Mas o mundo que somos capazes de criar tem qualidades compensatórias, inclusive um senso comunitário muito mais forte e uma conexão mais íntima com outras pessoas... e com o mundo natural. Temos trocado assiduamente, e durante muito tempo, o relacionamento pelo consumo.Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos têm se concentrado em construir casas maiores e mais distantes umas das outras.Isso destruiu a comunidade, O americano médio hoje tem metade dos amigos íntimos que um indivíduo há 50 anos. Não é de espantar que, sob qualquer medida, estejamos menos felizes com nossa existência, embora nosso padrão de vida material tenha triplicado. Essa compreensão torna possível imaginar o tipo de mudança de que precisamos.Desistir do crescimento em troca de durabilidade não significa perder tudo. Haverá alguma perda, e haverá algum ganho.

17 comentários:

  1. Esta matéria é interessantíssima porque traz ao ar uma realidade que quase todos se recusam a ver: não podemos crescer sempre. Isto é óbvio, vivemos em um espaço limitado pelo planeta com recursos, também, limitados. Outra realidade nem tão óbvia é que o sistema capitalista, nos moldes atuais, não funciona ao crecimento zero. Uma grande reforma no âmbito mundial será necessária em tempo muito mais próximo que muitos possam imaginar.

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  2. Justamente aí que entra a questão:

    Por que o capitalismo não funciona com crescimento zero ??

    Esta é uma afirmação necessária e suficiente para o Capitalismo ou seria um dogma interessante para alguns grupos ??

    Existem inovações tecnológicas no sentido da "poupança no capital", produzir o mesmo com menos capital (no sentido do seu custo de aquisição) mas com mais tecnologia embutida.

    Portanto crescimento constante em termos de capital não é uma necessidade teórica para o produto..

    Por aí vai para o consumo: precisamos de um consumo em constante crescimento para manter a máquina em funcionamento ??

    Para analisarmos qualquer questão: boas perguntas são preferíveis às boas respostas, tanto por estimular a busca quanto por manter os dogmas em constante revisão..

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  3. Acredito que os países querem crescer sempre por critérios geopolíticos. O resto é detalhe ...

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  4. Boas perguntas são estimulantes, caro Nids. Por que o capitalismo não funciona com o crescimento zero? Bem você disse, é como um aparato mecânico sujeito a determinadas leis. Vai aí outra pergunta; é possível o lucro com crescimento zero?

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  5. Ronaldo:

    Em tese é possivel lucro com crescimento zero, pois lucro é uma parcela da renda das pessoas que participam do produto, pelo esquema clássico:

    - Salário seria a remuneração da venda do trabalho, (cedi trabalho, recebo em troca salário)

    - Lucro seria a remuneração do trabalho do empresário nas empresas pequenas: ele tomou decisões sob risco, as vezes decidiu inovar ou estabeleceu alguma estratégia ou mesmo geriu o negócio e a sua remuneração para este trabalho seria o lucro..

    - Lucro nas empresas de capital (ações) seria a remuneração pelo empresário disponibilizar sua poupança para o empreendimento (similar ao juro). O cidadão não consumiu sua renda e disponibilizou-a para uma máquina produtiva, o seu prêmio: parcela do lucro..

    Se todo o produto se distribuir nestas rendas, não há razão para lucro zero num crescimento zero..

    Por outro lado se o Estado paga juro por dívida pública, ele pode oferecer uma renda sem contrapartida no produto, ele estaria cobrando IMPOSTO sem contrapartida em serviço social..

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  6. Mas o lucro é remuneração do trabalho do empresário ou o que sobrou após a remuneração? Qualquer que seja, então, a definição do lucro, o que é proibitivo de acontecer é seu reinvestimento na atividade produtiva porque, neste caso, teríamos crescimento. Da mesma forma, o cidadão comum, também, não poderia disponibilizar poupança para a atividade produtiva porque neste caso, também, apareceria crescimento.
    Da mesma forma os investidores do mercado acionário não poderiam auferir ganhos que pudessem ser reaplicados proporcionando crescimento.
    Qual seria a forma de distribuição de lucros que não implicasse em crescimento?

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  7. Numa economia clássica estática, lucro seria uma renda como o salário (macroeconomia). Claro, para o empresário (micro) seria o que restou depois de descontar seus custos, mas para a visão macro, lucro é salário de uma classe de trabalhadores "diferente": os de salário instáveis vinculados ao risco do empreendimento.

    Para esta mesma economia de "conto de fadas".. hehe! Haveria um lucro de equilibrio para cada empreendimento: para lucros abaixo de um patamar, os empresários sairiam do negócio para outros havendo maior distribuição dos excedentes aumentando o lucro individual para este empreendimento, o mesmo para "super-lucros": maior número de empresários se dirigiriam ao empreendimento diminuido o lucro para este patamar. (visão Shumpeter)

    Nesta visão o lucro seria um "medidor" ou "estimulador" para o empreendimento, um salário recompensador para quem tem idéias inovadoras ou diferentes..

    Neste sentido, numa economia estática, haveria sempre o que renovar ou o que "conservar", como o modelo pretendido pelo Bill McKibben do texto.

    Para conservação ambiental: sempre haverá áreas a serem reflorestadas, sempre haverá lixo a ser reciclado com métodos cada vez melhores, sempre haverá fronteiras (até na Lua) para serem superadas.. Tudo isto não demandaria MAIS demanda por recursos naturais para terem lucro..

    O problema é COMO tornar todas estas atividades lucrativas estimulando um ciclo virtuoso no sentido de não precisar crescer na demanda para se ter lucro..

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  8. Pelo que você disse, e entendo como razoável, a única forma de distribuição de lucros sem crescimento, seria redistribuí-los na forma de renda, não é mesmo? Assim, não existiria mais o lucro e sim renda. Estou certo?
    Ou, como o planeta ainda não cobra pelos seus recursos, continuaria a depredação ambiental para a sustentação das desigualdades criadas pelo atual sistema, só que irá, em algum tempo, alcançar um limite.
    Os recursos são limitados, isto está fora de discussão.
    Este impasse pode ser resolvido politicamente?

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  9. Salário, lucros e juros são rendas, questão de definição: a diferença é que no salário há um contrato trabalhista, no lucro um contrato de propriedade e no juro um contrato de dívida. A diferença é importante em economia pela sua dinâmica ser diferente, mas tudo isto é renda..

    Acho que o problema é este mesmo que apontou: o planeta não cobra pelos seus recursos..

    Preço seria o melhor indicador de informação conhecido.. através do preço o sistema sinaliza: olha.. falta feijão.. olha.. falta ferramentas.. olha as expectativas de lucro das empresas são estas.. os recursos produtivos custam isto.. Vale a pena produzir aquilo..

    Mas, o "melhor" não significa o "perfeito", nos preços não está o custo ambiental, o custo de repor os recursos naturais usados.. Se houvesse este repasse desta informação nos preços, os agentes econômicos tomariam as decisões: olha.. este preço indica que precisamos reflorestar... é lucrativo reflorestar.. vamos reflorestar.. Aquele produto é caro em termos ambientais, vamos consumir o outro que produz mais satizfação com menor custo..

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  10. Nids, meu caro, vamos nos afastar das definições acadêmicas e voltar à questão inicial, ainda não respondida. É possível a existência do lucro no crescimento zero?
    Diante da divergência no conceito, primeiramente temos que investigar o que é o lucro. Se vamos aos compêndios onde alguém vai aparecer com alguma definição ela não será válida aqui, a menos que seja totalmente entendido o conceito na prática, não como uma idéia.
    O que é lucro?
    Suponha que alguém, passeando, lhe é oferecido um relógio por 50 reais. Ele avalia, acha bom, paga e continua caminhando. Mais a frente, outro, vendo o relógio no braço daquele que comprou, oferece 100 reais. Ele vende o objeto e continua caminhando. Encontra em seguida um amigo e conta para ele:
    - Cara, acabei de lucrar 50, ou
    - Cara,tive uma renda de 50?
    Você pode, também investigar, pelos opostos. O contrário de lucro é prejuízo, e o contrário da renda? Gasto, não é mesmo?
    A renda dá uma idéia de perenidade, existem pessoas que vivem de rendas. Há alguém que viva de lucros? Um vigarista, assaltante ou especulador, talvez!
    E para a existência de lucro, um único evento anterior deve existir que é o investimento.
    Podemos, então, reformular a pergunta; poderá haver investimento em uma economia estagnada? Ora, se há investimento ela não está estagnada, e não havendo investimento, não há lucro, e o lucro é o que move o capitalismo.

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  11. Ronaldo.

    Antes de responder a pergunta, uma questão de definição.

    Estamos discutindo lucro em termos macroeconomicos, esta definição seria a média dos lucros.

    No exemplo do relógio, vamos supor que para fazer o relógio o custo seja 40.. (lucro zero..)

    40 seria o valor em moeda para comprar materiais, pagar trabalhadores e manter uma poupança para recuperar depreciação de máquinas para fazer um relogio.

    No mercado acima de dois vendedores, um consegue vender o relógio por 50 e outro por 100. Um tem lucro de 10 outro de 60, média: 35.

    Este valor seria o lucro médio que aquele mercado paga por vc trabalhar como atravessador na venda de uma unidade daquele relógio, atividade esta que demanda um certo trabalho: arriscar-se a ninguem comprar o relógio, ter que pagar fornecedor, manter o relógio no estoque, convencer o comprador, etc.. Este lucro é função da demanda/oferta/raridade e outras caracteristicas daquele relógio..

    Agora quanto à pergunta:

    É possível a existência do lucro no crescimento zero?

    Em tese sim, porque lucros seriam rendas que os consumidores estariam dispostos a pagar para empreendedores ou atravessadores que sempre existirão mesmo numa economia de crescimento zero, o investimento por sua vez poderia cobrir a depreciação tanto física como por obsolescencia técnica (inovações) do capital..

    Mas isto é em tese, na prática o crescimento é necessário para absorver a ineficiencia do sistema em se ajustar.. Por exemplo, com crescimento, qualquer jumento governa um país, pois qualquer conta fica no azul.. Com crescimento zero, administrar vira uma arte e isto não é para qualquer um..

    Por isto crises são sofridas, não pela crise em si, mas pela incompetencia dos governos e sociedade em se administrar em crises..

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  12. Ainda assim na média não poderia aparecer lucro porque se não, este seria reinvestido e apareceria crescimento. Vamos supor a existência de um equilíbrio no sistema capitalista à crescimento zero. Tal equilíbrio seria mantido pelo somatório de todos os lucros e prejuízos de modo que sempre o resultado fosse nulo. Seria possível tal equilíbrio? Sem dúvida, se existisse, seria um equilíbrio altamente instável, como pratos girando na ponta de uma haste. Ao invés de governantes, malabaristas! Isto porque somente durante algum período as empresas suportariam prejuízos para compensar as que estariam obtendo lucros.
    Ainda vê a possibilidade da existência de lucro no crescimento zero?

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  13. "A rigor, não existe produto ou serviço que possa ser taxado de sustentável em uma sociedade que está apenas no começo desse processo, que não tem respostas prontas e pede uma construção conjunta de soluções para lidar com uma encrenca de proporção planetária. Com o atual aparato tecnológico que a humanidade domina, será impossível manter o tipo de desenvolvimento tal qual ele se apresenta hoje, caracterizado pela busca de crescimento indefinido do consumo e busca ou conservação de um status quo de países ricos.

    O relatório O Estado do Mundo – 2010, do Worldwatch Institute, mostra que os números simplesmente não fecham. No atual ritmo de exploração de recursos naturais, nem mesmo a repetição de um padrão de consumo médio, equivalente ao de países como Tailândia ou Jordânia, seria suficiente para atender de maneira equânime os 6,8 bilhões de habitantes da Terra" em http://pagina22.com.br/index.php/2010/07/que-historia-e-essa/

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  14. Tyrso.

    Claro, com a população crescente e nos níveis atuais não é possivel mesmo, a fome malthusiana está vindo, antes sorrateiramente escondida pela tecnologia, no futuro será evidente mesmo nas economias de crescimento não sustentável.

    A sustentabilidade será para garantir o futuro: ela não resolverá o problema da fome global pois esta é irremediável: ocorrerá de qualquer jeito assim como o aquecimento global, o que uma floresta pode garantir é um sustento para coletores e água potável para centros (o mínimo..) assim como ações sobre o clima podem minorar os efeitos do aquecimento global..

    E...

    Malthus é um dos "profetas econômicos" mais corretos da escola clássica.. pena que não o ouviram: era muito melhor o controle da natalidade induzido e planejado do que o natural mediante doenças, guerra e fome o que parece que será o futuro..

    Mas a humanidade sempre foi assim: preferiu fazer de conta que os seus problemas vitais não existiam ao invés de encará-los, culpando bodes expiatórios e apostando que tudo dará certo porque alguem assim providenciará num futuro messianico distante.. Isto prova que o egoismo pessoal sempre falava mais alto nas decisões pessoais do que os compromissos com a geração futura.. Paciencia: que a geração futura pague pela nossa irresponsabilidade assim como agora pagamos pela irresponsabilidade de várias gerações passadas..

    E..

    Ronaldo:

    Grande parte do lucro não é investido.

    Para grandes empresas ele vira dividendos pequenos e acionistas optam em comprar alguma coisa, guardar no colchão ou investir..

    Se o mercado de investimentos oferecer opções investe-se, se não o investidor parte para o consumo.. do que ?? daquilo que foi produzido, renovando o ciclo.

    O ciclo não precisa ser crescente e pode reciclar gerando sempre renda para distribuir produto, agora se chamam esta renda de "lucro", ou "salário".. ou "juro", é questão apenas de distribuição do produto através dos vários vinculos contratuais.. Nenhuma destas parcelas deve obrigatóriamente ser nula para que o ciclo seja estacionário não crescente..

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  15. Tyrso aparece com um dado mais assustador. Nem mesmo nos padrões modestos de consumo da Tailândia ou Jordânia, a produção do planeta pode suportar para todos. Imaginem o quanto a população de países como os EUA teriam que abrir mão para que comece a haver um pouco de justiça.
    Mas pelo que estamos debatendo aqui o atual sistema parece incapaz de promover alguma redistribuição de renda. Ele pode, sim, melhorar o nível das classes mais necessitadas sem antes, porém, não ampliar muitas vezes mais a distância até as classes mais privilegiadas(vamos melhorar a vida dos catadores de latinhas aumentando o consumo de cerveja).

    Nids, meu caro, realmente nem todo lucro é reinvestido. Parte é reservado para contigências futuras, não passando de provisões para despesas futuras. Na verdade, esta parcela não é problema pois não vai para circulação.
    Vamos examinar a economia estagnada pelo lado da demanda.
    O PIB está congelado, significando que a produção está constante, sem variação. Para que haja equilíbrio o consumo está, também, constante.
    O que vai acontecer se houver aumento de renda de parte da população pelos dividendos distribuídos no final do ano? Como voce disse, ele tem três opções:
    a) guardar no colchão - sem problemas ( fora de circulação)
    b) investimento - não pode pois provoca crescimento
    c) consumo - também não pode pois o aumento da demanda sem o correspondente aumento da oferta provoca inflação (a oferta está congelada)
    Lucro que não se pode gastar serve para alguma coisa?
    Você ainda crê que pode haver lucro na economia estagnada?

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  16. Ronaldo..

    Olha só o esqueminha teórico clássico:

    a) guardar no colchão: este causa problemas futuros pois o dinheiro guardado no colchão é valor retribuido por algum "serviço prestado" que está embutido em algum produto que não foi consumido pelo dinheiro. Mais cedo ou mais tarde tal poupança produz a procura de um produto futuro. A poupança no banco, por outro lado, vai para o investidor (ele circula..)

    b) investimento - provoca crescimento, exceto se este investimento for para compensar a depreciação física ou por obsolecescia ou ainda no caso ecológico: se o investimento for dirigido para compensar a exaustão ecológica.

    Nestes casos não haveria crescimento na demanda por recursos naturais, pois vc está investindo na recuperação de recursos (preservação: tema lá do texto..)

    c) consumo: não cresce pois o produzido em função da renda já existe e está circulando a procura da contrapartida paga: a renda (salário + lucros + juros do ciclo anterior seria para produzir naquela fase do ciclo).

    Na verdade penso que, e algum economista de plantão pode corrigir, o efeito negativo do não crescimento ou de alguma recessão estaria na EXPECTATIVA de lucros baixos futuros, "efeito boiada"..

    Isto explicaria outro efeito: "ameaça".. Um governo não faz nada mas vai na imprensa e diz que fará ajustes.. No dia seguinte está lá os efeitos da medida que sequer saiu do papel..

    Isto traz outra questão: qual o efeito da informação da crise ambiental sobre as decisões político-econômicas ??

    A necessidade dos ricos abrirem mão de suas rendas para melhorar a situação dos pobres é uma necessiade humanitária, porém diante da informação de que distribuindo-se tudo ainda sim não chegamos ao consumo ideal diante da demanda por recursos naturais, o efeito, acho eu, seria na direção de produzir expectativas no sentido de concentrar mais ainda a renda..

    Quem tem bons lucros diante de tudo isto, ciente que sua distribuição não vai salvar a boiada, vai segurar mais ainda para garantir que seus descendentes tenham chances para competir por algum lugar ao sol no futuro.

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  17. Nids, meu caro

    a) Dizer que existe sempre vinculação da moeda à existência de algum produto ou serviço está mais para Karl Marx do que para Keynes. O sistema capitalista permite que se ganhe dinheiro (maravilha!) sem trabalho. É o prêmio pela criatividade e competência que levou o mundo a um desenvolvimento espetacular nestes anos. Concorda?

    b) A depreciação está embutida nos custos. Reserva-se uma parte dos ganhos para a reposição do maquinário. Assim, investimento sempre provocará crescimento. (raciocinando de maneira inversa, pois nossa economia está estagnada, não aceitando investimentos que provocasem sua expansão, e ninguém investe sabendo que não haverá retorno).
    Um problema já identificamos que é o da Terra não cobrar pelos seus recursos, assim o "investimento" na natureza não seria mais do que a reposição do que foi "saqueado"
    c)Como já foi dito, dinheiro sem correspondência na produção provocará desequilíbrio ( O BC entende bem disso).

    Acho que podemos, por nós mesmos, continuar nessa investigação, seria somente a prática de um raciocínio claro.

    Rico abrir mão de alguma coisa é, no mínimo, intrigante. Se ele fosse uma pessoa sensível ao problema da concentração de riquezas neste mundo ele não teria chegado a ficar rico. E se tivesse nascido príncipe faria como Sidarta. Mas isto é outra discussão.
    Ainda acha que é possível a existência de lucro em uma economia de crescimento zero?

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