A necessidade de crescimento e desenvolvimento é um dogma em economia..
Além de ninguém definir o que seja desenvolvimento e do "porque" e "pra que" toda esta corrida.. o questionamento a respeito não avança pois:
Em momentos de crise, ninguém discute pela necessidade de sair da crise..
Em momentos de sucesso, ninguém discute em time que está "vencendo.."
Acha-se que crescer abaixo do crescimento populacional vegetativo seria diminuir qualidade de vida, sem se definir o que seja isto (todos terem uma "moto bala" na garagem ??)..
Uma entrevista interessante, com pontos questionáveis, a respeito disto na revista Scientific American cujo tema seria o da moda: Crescimento Sustentável com Bill McKibben..
Nildson (Nids)
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DESAFIO A BILL McKIBBEN: O CRESCIMENTO ZERO REALMENTE É NECESSÁRIO ?
A sociedade sempre se sustentou localmente até a Revolução Industrial, quando teve início uma marcha inexorável rumo a economias maiores e centralizadas. Em Eaarth: making a life on a tough new Planet, Bill McKibben afirma que agora o crescimento implacável está arruinando o globo, e é a manutenção da riqueza e dos recursos, e não a expansão, que deve ser o novo propulsor da sociedade, ou ela perecerá. Abaixo, o editor Mark Fischett questiona suas afirmações.
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Scientific American: Basicamente, sua mensagem é que a humanidade precisa desistir do crescimento como modus operandi. Por que não podemos apenas crescer de forma mais inteligente?
McKIBBEN: Certamente podemos agir com mais eficiência, e deveríamos. Mas isso não basta. Estamos afinal atingindo os limites de crescimento sobre os quais as pessoas têm falado desde os anos 70, e o que vemos são mudanças ambientais assombrosas. Poucas pessoas conseguiram aceitar isso.
SA: Um crescimento zero, absoluto, é necessário, ou uma expansão "muito sutil" seria sustentável?
McKIBBEN: Não sou um utopista. Não tenho nenhum plano sobre onde o mundo deveria se apoiar. Um número especifico não faz parte da análise. Estou mais interessado em trajetórias: o que acontecera se nos afastarmos do crescimento como resposta a tudo e rumarmos em uma direção diferente.Estivemos tão envolvidos no experimento de crescimento que tentamos pouquíssimas outras opções. Podemos medir a sociedade com outros meios. Alguns países mensuram a satisfação.Se medirmos o mundo de outras maneiras, o acumulo individual de riqueza torna-se menos importante.
SA: O sentido subjacente aqui é que grandes sistemas centralizados, monolíticos, de agricultura, energia e outras formas de comércio, impulsionam o crescimento. O senhor está afirmando que grande é ruim?
McKIBBEN: Construímos as coisas em grande escala porque isso permitiu um crescimento mais rápido. A eficiência foi conquistada por meio do tamanho. Não é disso que precisamos agora. Não necessitamos de um cavalo de corrida, criado primorosamente para correr o mais rápido possível, mas cujo tornozelo se quebra assim que há uma falha na pista. Precisamos de um cavalo de tração, concebido para ser resistente. Nosso mantra tem de ser a durabilidade, não a expansão.
SA: O vilão é apenas o tamanho, ou a complexidade que ele gera? O senhor afirma que não apenas os bancos, mas as indústrias mais básicas são grandes demais para fracassar". Essas instituições devem ser dissolvidas ou extricadas de alguma forma?
McKIBBEN: Os sistemas financeiro, energético e agrícola compartilham grandes similaridades: um número muito reduzido de envolvidos, incrivelmente interligados. Em cada caso, ocorrem efeitos cascata quando algo dá errado; uma torta de frango com legumes que transmite botulismo para 48 estados. Minha casa funciona com painéis solares. Se eles falharem, tenho um problema, mas isso não derrubará a rede de energia no leste dos Estados Unidos.
SA: Então o senhor defende uma volta à dependência local. Mas desde o lançamento do livro "O negócio é ser pequeno", de E. F Schumacher, em 1973, pessoas dedicadas vêm tentando implantar sistemas locais de produção de alimentos e energia ao redor do mundo. Entretanto, muitas regiões ainda enfrentam dificuldades. O que significa local em termos dimensionais?
McKIBBEN: Descobriremos o tamanho. Pode ser uma cidade, uma região, um estado. Mas, para encontrar a resposta, precisamos eliminar do nosso atual sistema os subsídios, que distorcem incrivelmente.Eles emitem todo tipo de maus sinais sobre o que deveríamos fazer. Com relação à energia, aprovamos o combustível fóssil durante muito tempo. A situação é ainda mais escandalosa na agricultura.Uma vez que o fluxo de subsídios seque, poderemos descobrir que escala industrial faz sentido.
(???????? Não está claro a ligação de subsídio ao contexto anterior... faltou perguntar sobre isto ?????????? == Nids)
SA: Os produtos locais não custam mais caro? (boa pergunta.. == Nids)
MCKIBBEN: Teríamos mais fazendas, que poderiam ser mais intensivas em termos de trabalho, mas isso criaria novos empregos e o fazendeiro ficaria com uma fatia maior do rendimento. Economicamente,propriedades locais eliminam muitos intermediários. Comprar vegetais de empreendimentos agrícolas sustentados pela comunidade (CSA, na sigla em inglês) é o meio mais barato para conseguir alimentos. A carne ainda pode ser mais cara, mas, francamente, consumi-la mais moderadamente não é o fim do mundo.A melhor notícia em meu livro é a disseminação, nos últimos anos, de todos os tipos de técnicas agrícolas de pequena escala, engenhosas e eficientes, ao redor do mundo em desenvolvimento.
SA: Parece que a chave, pelo menos para a agricultura local, é ensinar as pessoas a aumentar o rendimento sem utilizar mais fertilizantes...
MCKIBBEN: Sim, e isso depende de onde a pessoa está. Não haverá um único sistema que se espalhará por todo o mundo, do jeito como tentamos difundir a agricultura industrial, baseada em fertilizantes sintéticos. As soluções são muito mais inteligentes que isso. Em vez de disseminar substâncias químicas, que provocam todos os tipos de problemas, estamos desenvolvendo métodos alternativos e meios para difundi-los.
(???? O problema é know how.. a difusão da agricultura industrial ocorreu porque ela é competitiva, para a pequena agricultura falta alguma fórmula para torná-la competitiva.. faltou levantar esta questão.. ???? == Nids)
SA: Certo. Mesmo que uma agricultura local funcione, como isso promove a durabilidade em vez do crescimento ? (finalmente outra boa pergunta.. == Nids)
MCKIBBEN: Provavelmente, os bens mais importantes que poderemos ter para atingir uma estabilidade em longo prazo, em particular em uma era de revolução ecológica, são solos de boa qualidade. Terras que permitam produzir uma boa quantidade de alimentos, que consigam absorver muita água, já que os índices de chuva estão aumentando de forma constante; solos capazes de reter essa umidade durante os prolongados períodos de seca que estão se tornando mais comuns.Um solo bom é precisamente o que uma agricultura local, de baixo impacto e poucos insumos, constrói e é exatamente o que a agricultura industrial destrói.
(?? O problema é know how de novo sobre a tecnologia de manejo do solo... == Nids)
SA: A dependência local parece atraente, mas de que forma países como os Estados Unidos saem de enormes dívidas sem crescer? O Departamento do Tesouro americano afirma que a única solução indolor é crescer. Necessitamos de um período de transição em que o crescimento elimina a dívida para depois adotar a durabilidade?
MCKIBBEN: Bem, indolor é apenas adiar. Voce sabe Pague-me agora ou pague-me depois . A principal questão política é: podemos fazer com que as mudanças ocorram rápido o bastante para evitar colapsos generalizados, não apenas plausíveis, mas prováveis ? Como promovemos essas transições mais rapidamente do que elas podem ocorrer?
(... respondeu perguntando.. hehehe == Nids)
SA: Qual a primeira e mais importante medida a ser tomada ??
MCKIBBEN: Mudar o preço da energia para refletir os danos que ela provoca no meio ambiente. (boa.. !! == Nids) Se o combustível fóssil incluísse esse custo, veríamos que esses novos sistemas e transições ocorreriam muito mais rapidamente. Um teto de carbono que eleve seu preço é uma condição sine qua non, indispensável, para conseguir fazer qualquer coisa.
(.. de fato, muitos custos não aparecem na planilha de preços... mas e tutano político para isto ?? == Nids)
SA: Um preço para o carbono é de difícil persuasão...
MCKIBBEN: Não existe uma saída fácil para nossos problemas. Mas o mundo que somos capazes de criar tem qualidades compensatórias, inclusive um senso comunitário muito mais forte e uma conexão mais íntima com outras pessoas... e com o mundo natural. Temos trocado assiduamente, e durante muito tempo, o relacionamento pelo consumo.Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos têm se concentrado em construir casas maiores e mais distantes umas das outras.Isso destruiu a comunidade, O americano médio hoje tem metade dos amigos íntimos que um indivíduo há 50 anos. Não é de espantar que, sob qualquer medida, estejamos menos felizes com nossa existência, embora nosso padrão de vida material tenha triplicado. Essa compreensão torna possível imaginar o tipo de mudança de que precisamos.Desistir do crescimento em troca de durabilidade não significa perder tudo. Haverá alguma perda, e haverá algum ganho.
terça-feira, 29 de junho de 2010
segunda-feira, 28 de junho de 2010
Anatel ganha aval do TCU para manter horário de trabalho flexível de servidores
Anatel ganha aval do TCU para manter horário de trabalho flexível de servidores
O governo deve recorrer
Luciano Pires*
Publicação: 26/06/2010 08:49 (Correio Brasiliense)
Adisputa fratricida entre a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) e o Ministério do Planejamento em torno da flexibilização da jornada de trabalho na autarquia acaba de ganhar um novo capítulo. Uma análise técnica realizada pela Secretaria de Fiscalização de Pessoal (Sefip) do Tribunal de Contas da União (TCU) concluiu que a adoção de horários corridos e a criação do regime de sobreaviso não só são legais, como se alinham ao conceito de gestão pública moderna voltada para resultados e melhoria da eficiência. A manifestação do órgão de controle em favor do agência reguladora abre precedentes para que outros setores da máquina adotem a mesma ferramenta. O governo teme por um possível efeito dominó. E tem razões para isso.
Outros órgãos da administração direta já discutem internamente a adoção da jornada flexível. Na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por exemplo, os empregados já se posicionaram a favor das alterações. A próxima da fila deve ser a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). De acordo com o representante do Sinagências, a flexibilização dos horários de trabalho é uma tendência entre os órgãos reguladores. “É disso que o governo tem medo”, justificou Oliveira.
A intervenção do TCU se deu depois de uma provocação formal feita pela Secretaria de Recursos Humanos (SRH) — ligada ao Ministério do Planejamento. A instância responsável pela gestão de pessoal no âmbito do Executivo questionou o ato baixado pela Anatel sob o argumento de que a agência estaria extrapolando seu papel, ainda que desfrute de considerável autonomia administrativa. A Primeira Câmara do TCU julgou improcedente a representação. A SRH ainda pode recorrer levando o tema ao plenário do tribunal. A Advocacia-Geral da União (AGU) será acionada ao longo da próxima semana para defender o ponto de vista do governo. No entendimento da SRH, a decisão do TCU legitima a redução da carga de trabalho semanal dos empregados da Anatel, o que é ilegal.
À disposição
O funcionário que opta por cumprir a jornada não convencional tem expediente de sete horas corridas por dia, sem direito a intervalo de almoço, com cinco horas de sobreaviso — sistema no qual todos ficam à disposição da chefia. Esse padrão de 35 horas semanais mais cinco foi inaugurado em julho de 2009 e está ativo atualmente. Para o TCU, o modelo não reduz a jornada. “A Anatel, pela natureza de suas atividades no exercício da regulação e da fiscalização do setor de telecomunicações, tem servidores demandados em diferentes horários, tornando necessário aproximar o foco do controle aos resultados alcançados, em detrimento de um rígido controle de procedimentos”, reforçou a nota do TCU. A Anatel não se pronunciou oficialmente.
Os servidores da Anatel veem o gesto do TCU como uma vitória pela manutenção da jornada flexível, mas acreditam que a queda de braço ainda está longe de terminar. “Não é a última batalha. O governo nunca se dará por vencido”, resumiu João Maria Medeiros de Oliveira, presidente do Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação (Sinagências). Segundo ele, os funcionários estão satisfeitos com a nova rotina e a própria estrutura da Anatel passou a interagir melhor, inclusive em relação ao atendimento ao público, depois que as mudanças foram colocadas em prática. “Nada impede que o servidor trabalhe em horários flexíveis, desde que tenha metas para cumprir”, sustentou.
Em dezembro do ano passado, a Secretaria de Recursos Humanos baixou uma nota técnica (1)com recomendações expressas para que a Anatel banisse o sistema. A base legal utilizada para formular a norma é o artigo 44 da Lei nº 8.112, de 1990, que rege o funcionalismo.
1 - Nada feito
Em 17 páginas, a SRH faz referências a todas as leis disponíveis sobre o setor público para justificar que, apesar de autônoma e independente, a Anatel não tem competência para fazer as alterações que fez. De forma dura e direta, o órgão determinou: “Esta secretaria de recursos humanos não é contra a inovação de novas gestões ou da melhoria da qualidade de vida dos servidores públicos federais. Todavia, tais medidas devem obrigatoriamente se pautar na boa prática administrativa e, sobretudo, no respeito às normas que regem a administração pública, uma vez que a legalidade é princípio basilar dessa esfera administrativa”.
*Formou-se em Comunicação em 1977 pela Universidade Mackenzie, em São Paulo. A experiência como jornalista e os 26 anos que atuou como executivo de na multinacional de autopeças Dana Corporation (12 dos quais na função de diretor) propiciaram visão dinâmica do mundo dos negócios e do comportamento das pessoas que desempenham papéis de liderança. Cartunista premiado[1], pelo Salão Internacional de Humor de Piracicaba em 1979[2] e 1981[3], tornou-se colunista de vários sites, revistas e jornais, além de produzir e apresentar o programa/podcast Café Brasil[4] na Rádio Mundial FM em São Paulo e apresentar comentários diários no Transnotícias, programa da rádio Transamérica.
domingo, 27 de junho de 2010
Postagens nos Blogs da Starnet
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segunda-feira, 21 de junho de 2010
ATA AMENA
Correio Braziliense – Brasil S/A – A ata veio amena - 18/6/2010 A ata veio amena
BC indica que aperto da Selic não deverá aumentar, mas tampouco será reduzido a curto prazo
Por Antonio Machadomailto:Machadomachado@cidadebiz.com.br
(contribuição Vicente Fialkoski)
A leitura da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, normalmente pouco clara, satisfaz fregueses variados. A de agora, referente à reunião da semana passada, em que a taxa Selic foi aumentada de 9,5% ao ano para 10,25%, veio menos dúbia, mas o noticiário, sobretudo de rádio, mais nervoso, anunciou o que o BC não escreveu: a piora do cenário da inflação, o que não quer dizer que tenha melhorado.
Simplesmente, não há tantas certezas.
Sobre a relação entre a oferta e a demanda, que é o que importa para o atual momento da economia — pontuado pela inflação em doze meses até maio em 5,22% (acima, portanto, da meta anual de 4,5%), importações correndo à frente das exportações e deficits externos —, a análise do BC surpreendeu pelo tom mais ameno que o esperado.
A ata anterior, relativa à reunião de 28 de abril, quando a Selic saiu da estabilidade em que vinha desde julho de 2009, ao subir de 8,75% para 9,5%, cogitava um cenário sem reservas. Já não é assim. “O conjunto de informações disponíveis”, afirma a ata, “evidencia continuidade da deterioração da dinâmica inflacionária na margem, embora em ritmo menor”. Não havia tal ressalta na versão anterior.
O BC teria ficado molenga? Não parece, já que o texto “considera que essa deterioração deva ser contida e, para tanto, precisam ser revertidos os sinais de persistência do descompasso entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta agregadas”. Esse desequilíbrio, segundo o BC, tende a “aumentar o risco” para o curso da inflação.
A ata avalia que a economia continua aquecida, operando com alto nível de utilização de capacidade, mas admite que possa “mostrar algum sinal de arrefecimento”. Foi outro toque de moderação do BC.
Sobre o cenário internacional, a ata revela certeza e dúvida. No primeiro caso, o BC sugere maior preocupação com o efeito da crise fiscal da Europa sobre a retomada mais forte da economia mundial. Já quanto à influência desse quadro sobre a inflação brasileira, a ata firma que ela é mais “ambígua” — dadas as incertezas sobre o comportamento dos preços dos ativos e das commodities.
Traduzindo as mensagens do BC: é improvável que o ritmo de aperto da Selic seja acelerado. Mas tampouco será reduzido a curto prazo.
Sobriedade analítica Nesses termos, a ata do Copom revela uma sobriedade analítica que contraria a percepção de radicalismo e ortodoxia desmedida, como a crítica enxerga o BC. Pode ter sido proposital, relacionado com a excepcionalidade da conjuntura eleitoral, suspeitarão alguns.
Mas o provável é que o BC concorde com a expectativa em formação no mercado financeiro, segundo a qual, apesar de o crescimento da economia estar acima de seu potencial, não há superaquecimento. A inflação, assim, poderia convergir para a meta de 4,5% de variação anual a um custo menor, mas num prazo maior, entre 2011 e 2012.
A preferência de Lula
As questões-chave são o crescimento, que pela ótica do BC deveria recuar para um ritmo sintonizado com a inflação na meta, e deficit externo sem estresse, em torno de 1,5% a 2% do PIB, estando a 1,9% em 12 meses até abril. Até o primeiro trimestre, a economia veio crescendo no talo. Para adiante, o PIB será resultado da interação entre os juros e a política fiscal, que continua expansionista.
Do arsenal pró-equilíbrio macroeconômico, poderiam ser sacados os juros, o controle fiscal e o contingenciamento do crédito. Os dois últimos, Lula nem quer ouvir falar. As suas sequelas seriam logo percebidas pelo grupo de eleitores que ele mais cultiva: a classe média emergente e o funcionalismo público. Já o ônus da taxa juros é difuso. No crédito ao consumo, por exemplo, conta mais o tamanho da prestação que os juros embutidos no financiamento.
Álibi para o cinismo
O BC é a última trincheira da estabilidade, além de álibi para o cinismo dos políticos. Essas coisas práticas, ligadas à sabotagem da política fiscal em relação à meta de inflação determinada pelo próprio governo, o BC ignora em suas atas, assim como os gravames institucionais sobre o crédito, entre recolhimento compulsório de parte dos depósitos da banca e tributação. Sua análise, tal como a usual entre os economistas, é asséptica, como se a “matemática” da estabilidade macroeconômica fosse neutra, sem sequelas materiais.
No próximo dia 24, vai-se ter outra constatação dessa liturgia. O Conselho Monetário Nacional se reúne para fixar a meta de inflação a ser cumprida pelo BC em 2012. A previsão é que repita a meta de 4,5% pelo 8º ano. Mas o futuro governo poderá mudá-la, se quiser.
Coragem para mudar
Ainda que os candidatos presidenciais elogiem o sistema de metas de inflação, inclusive José Serra, antigo desafeto da política de juros do Banco Central, há o que mudar. Um terço do IPCA, o índice do IBGE que baliza a medida oficial de inflação, é determinado por preços administrados, resíduos da indexação abolida no Plano Real.
É o que levou em 2009 a inflação, que desabou em todo o mundo, a apresentar enorme resistência à recessão, recuando de 5,9% em 2008 para apenas 4,3%, enquanto o PIB tombou 0,2%. E não só a indexação abate a eficácia da política monetária. Do total de crédito, mais de 40% são a taxas fixas subsidiadas — portanto, não tocadas pela Selic, que acaba sendo maior para gerar o efeito pretendido.
Tudo isso é anomalia à espera de um governo com coragem para peitá-la.
BC indica que aperto da Selic não deverá aumentar, mas tampouco será reduzido a curto prazo
Por Antonio Machadomailto:Machadomachado@cidadebiz.com.br
(contribuição Vicente Fialkoski)
A leitura da ata do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, normalmente pouco clara, satisfaz fregueses variados. A de agora, referente à reunião da semana passada, em que a taxa Selic foi aumentada de 9,5% ao ano para 10,25%, veio menos dúbia, mas o noticiário, sobretudo de rádio, mais nervoso, anunciou o que o BC não escreveu: a piora do cenário da inflação, o que não quer dizer que tenha melhorado.
Simplesmente, não há tantas certezas.
Sobre a relação entre a oferta e a demanda, que é o que importa para o atual momento da economia — pontuado pela inflação em doze meses até maio em 5,22% (acima, portanto, da meta anual de 4,5%), importações correndo à frente das exportações e deficits externos —, a análise do BC surpreendeu pelo tom mais ameno que o esperado.
A ata anterior, relativa à reunião de 28 de abril, quando a Selic saiu da estabilidade em que vinha desde julho de 2009, ao subir de 8,75% para 9,5%, cogitava um cenário sem reservas. Já não é assim. “O conjunto de informações disponíveis”, afirma a ata, “evidencia continuidade da deterioração da dinâmica inflacionária na margem, embora em ritmo menor”. Não havia tal ressalta na versão anterior.
O BC teria ficado molenga? Não parece, já que o texto “considera que essa deterioração deva ser contida e, para tanto, precisam ser revertidos os sinais de persistência do descompasso entre o ritmo de expansão da demanda e da oferta agregadas”. Esse desequilíbrio, segundo o BC, tende a “aumentar o risco” para o curso da inflação.
A ata avalia que a economia continua aquecida, operando com alto nível de utilização de capacidade, mas admite que possa “mostrar algum sinal de arrefecimento”. Foi outro toque de moderação do BC.
Sobre o cenário internacional, a ata revela certeza e dúvida. No primeiro caso, o BC sugere maior preocupação com o efeito da crise fiscal da Europa sobre a retomada mais forte da economia mundial. Já quanto à influência desse quadro sobre a inflação brasileira, a ata firma que ela é mais “ambígua” — dadas as incertezas sobre o comportamento dos preços dos ativos e das commodities.
Traduzindo as mensagens do BC: é improvável que o ritmo de aperto da Selic seja acelerado. Mas tampouco será reduzido a curto prazo.
Sobriedade analítica Nesses termos, a ata do Copom revela uma sobriedade analítica que contraria a percepção de radicalismo e ortodoxia desmedida, como a crítica enxerga o BC. Pode ter sido proposital, relacionado com a excepcionalidade da conjuntura eleitoral, suspeitarão alguns.
Mas o provável é que o BC concorde com a expectativa em formação no mercado financeiro, segundo a qual, apesar de o crescimento da economia estar acima de seu potencial, não há superaquecimento. A inflação, assim, poderia convergir para a meta de 4,5% de variação anual a um custo menor, mas num prazo maior, entre 2011 e 2012.
A preferência de Lula
As questões-chave são o crescimento, que pela ótica do BC deveria recuar para um ritmo sintonizado com a inflação na meta, e deficit externo sem estresse, em torno de 1,5% a 2% do PIB, estando a 1,9% em 12 meses até abril. Até o primeiro trimestre, a economia veio crescendo no talo. Para adiante, o PIB será resultado da interação entre os juros e a política fiscal, que continua expansionista.
Do arsenal pró-equilíbrio macroeconômico, poderiam ser sacados os juros, o controle fiscal e o contingenciamento do crédito. Os dois últimos, Lula nem quer ouvir falar. As suas sequelas seriam logo percebidas pelo grupo de eleitores que ele mais cultiva: a classe média emergente e o funcionalismo público. Já o ônus da taxa juros é difuso. No crédito ao consumo, por exemplo, conta mais o tamanho da prestação que os juros embutidos no financiamento.
Álibi para o cinismo
O BC é a última trincheira da estabilidade, além de álibi para o cinismo dos políticos. Essas coisas práticas, ligadas à sabotagem da política fiscal em relação à meta de inflação determinada pelo próprio governo, o BC ignora em suas atas, assim como os gravames institucionais sobre o crédito, entre recolhimento compulsório de parte dos depósitos da banca e tributação. Sua análise, tal como a usual entre os economistas, é asséptica, como se a “matemática” da estabilidade macroeconômica fosse neutra, sem sequelas materiais.
No próximo dia 24, vai-se ter outra constatação dessa liturgia. O Conselho Monetário Nacional se reúne para fixar a meta de inflação a ser cumprida pelo BC em 2012. A previsão é que repita a meta de 4,5% pelo 8º ano. Mas o futuro governo poderá mudá-la, se quiser.
Coragem para mudar
Ainda que os candidatos presidenciais elogiem o sistema de metas de inflação, inclusive José Serra, antigo desafeto da política de juros do Banco Central, há o que mudar. Um terço do IPCA, o índice do IBGE que baliza a medida oficial de inflação, é determinado por preços administrados, resíduos da indexação abolida no Plano Real.
É o que levou em 2009 a inflação, que desabou em todo o mundo, a apresentar enorme resistência à recessão, recuando de 5,9% em 2008 para apenas 4,3%, enquanto o PIB tombou 0,2%. E não só a indexação abate a eficácia da política monetária. Do total de crédito, mais de 40% são a taxas fixas subsidiadas — portanto, não tocadas pela Selic, que acaba sendo maior para gerar o efeito pretendido.
Tudo isso é anomalia à espera de um governo com coragem para peitá-la.
quinta-feira, 17 de junho de 2010
O PREÇO DA BIODIVERSIDADE
(CONTRIBUIÇÃO ORLANDO AMADO DE FREITAS FILHO)
Em entrevista à revista Veja, o economista Pavan Sukhdev afirma que: "A verdadeira inovação é fruto de limitações. Em uma economia verde, haverá ainda mais inovação, porque as empresas terão de fabricar os mesmos produtos sem poluir"
Em 2007, em um encontro do G8, o grupo dos oito países mais ricos do mundo, em Potsdam, na Alemanha, decidiu-se que era necessário criar um painel responsável por calcular o custo dos danos ao ambiente causados pelo homem. O indiano Pavan Sukhdev, economista sênior do Deutsche Bank, foi convidado para coordenar esse projeto, chamado de "A economia dos ecossistemas e da biodiversidade" (Teeb, na sigla em inglês) e vinculado ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
O resultado será apresentado em outubro em uma conferência sobre biodiversidade em Nagoya, no Japão. Sukhdev concedeu a seguinte entrevista ao editor Diogo Schelp em São Paulo, onde participou de palestras para divulgar dados preliminares de seu estudo. Ele avalia que o prejuízo causado pela destruição do ambiente só pode ser revertido com uma transição para um sistema econômico mais sustentável. É o que Sukhdev chama de "economia verde".
Qual é o custo da destruição da natureza? A perda anual representa entre 2,5 trilhões e 4,5 trilhões de dólares. Nessa conta está incluída apenas a destruição das florestas, dos mananciais e da vegetação dos mangues. O cálculo foi feito com base no valor atual dos serviços que esses recursos naturais prestam ao homem, como ar puro, água doce, produtos florestais, turismo ecológico, potencial biológico das espécies, prevenção de inundações e controle de secas.
Quem mais perde com os danos ao ambiente?
Há quem pense que a defesa ambiental é um luxo para os ricos. A realidade é o oposto. A proteção da biodiversidade é uma necessidade para os pobres, principalmente os da zona rural. Eles sobrevivem dos benefícios diretos das florestas, dos recursos hídricos e do solo. Essa dependência se explica porque os pobres não têm muitos bens acumulados. Como têm pouca riqueza privada, precisam da riqueza pública, na forma de serviços ecológicos, para sobreviver. Se continuarmos no atual ritmo de destruição ambiental, em 2050 o prejuízo será equivalente a 7% do PIB mundial. Pode parecer pouco em relação à riqueza global, mas é muito se comparado aos benefícios e ao sustento que a natureza proporciona às famílias dos agricultores pobres. Por isso, acredito que a maneira certa de calcular o custo da destruição do ambiente é compará-lo não ao PIB, mas à renda da população pobre. Por esse critério, os prejuízos causados pelo mau uso dos recursos naturais representam entre 50% e 80% da renda dos pobres. Enquanto não mudarmos a maneira de fazer negócios, vamos continuar perdendo as vantagens dos serviços ambientais e, por consequência, prejudicando a sobrevivência da maior parcela da humanidade.
O que é preciso mudar na maneira de fazer negócios?
A visão dominante, hoje, é a da necessidade de escolher entre desenvolvimento e ambiente, ou entre riqueza e biodiversidade. Esses elementos não são intercambiáveis. Os empresários também podem ser prejudicados pela devastação ambiental. Há pelo menos três maneiras de convencê-los disso. A primeira é mostrar os riscos crescentes ao seu negócio. Se a empresa atua no setor agrícola, por exemplo, pode ter gastos mais elevados com fertilizantes e até perder a capacidade de produzir em determinada região se houver escassez de água causada pelo mau uso do recurso. A segunda maneira é revelar as oportunidades de negócio relacionadas à exploração sustentável da natureza. A indústria dos produtos orgânicos é um exemplo disso. Trata-se de um mercado que cresceu a um ritmo de 200% nos últimos quatro anos, no mundo todo. A terceira forma de eliminar a dicotomia entre desenvolvimento e ambiente é incentivar os empresários a explorar o potencial de uma nova área de inovação: a criação de tecnologias sustentáveis inspiradas em soluções da natureza. Em resumo, os empresários precisam começar a investir em capital natural, aquele formado pelos benefícios dos ecossistemas e da biodiversidade. Essa economia verde terá de substituir o modelo atual.
Por que o modelo econômico atual não é sustentável?
O mundo nunca se recuperou para valer da grande recessão do início dos anos 30. O modelo que nos tirou daquela situação, válido até hoje, surgiu após a II Guerra e era baseado no aumento da produção alimentada pelo consumo. O progresso econômico passou então a ser medido pelo crescimento do PIB (produto interno bruto), basicamente a soma de toda a riqueza produzida por uma nação. Desde então, estamos presos nesse esquema. Durante algum tempo, o progresso baseado no crescimento do PIB serviu a um bom propósito, porque elevou uma grande parcela da sociedade a um patamar de grande bem-estar. Atualmente, esse modelo é tão anacrônico quanto o transporte transoceânico de passageiros em navios. Nas últimas décadas, o mundo enfrentou quatro grandes recessões. Para o capitalismo voltar a funcionar, é preciso entender a riqueza como uma combinação do capital físico (produtos e serviços feitos pelo homem, bens monetários), do capital humano (saúde, educação, inteligência), do capital social (segurança nas ruas e outros elementos da convivência em sociedade) e do capital natural (a possibilidade de respirar ar puro e beber água limpa). O modelo de progresso econômico quantificado apenas pelo PIB é uma falácia. Estamos presos em um esquema que privilegia a quantidade contra a qualidade. Isso é ilógico.
O senhor pode dar um exemplo?
Basta analisar a questão dos subsídios. Atualmente, a indústria do petróleo recebe mais de 300 bilhões de dólares por ano para subsidiar preço e produção. Qualquer cidadão sabe que os combustíveis fósseis estão entre os maiores culpados pelo aquecimento global. Apesar de ser antieconômica e poluente, a exploração de petróleo e derivados é sustentada com dinheiro público. A pesca recebe 27 bilhões de dólares anuais de ajuda, o que representa um terço do faturamento global da indústria pesqueira. O resultado disso é que os estoques de peixe nos oceanos estão entrando em colapso. Esse é um exemplo claro da falta de lógica da busca inconsequente pelo aumento da produção.
Como o setor financeiro pode lucrar em uma economia verde?
Os bancos correm para os setores onde estão os negócios mais bem-sucedidos. Em uma economia verde não será diferente. As empresas com o melhor retorno financeiro, aquelas com maior estabilidade e bom padrão de crescimento, serão sempre privilegiadas pelos banqueiros. Se o meu acionista quer o melhor desempenho com os riscos mais baixos possíveis, por que não investiria em empresas verdes, sustentáveis?
Como o senhor define a economia verde?
Trata-se de um modelo econômico que reduz o risco de escassez ecológica e dano ambiental. Estima-se que o impacto da atividade das 3 000 principais corporações do mundo na mudança climática, nos recursos hídricos, no desperdício de material e na poluição tenha um custo de 2,25 trilhões de dólares por ano. Isso representa 3% da economia global e não inclui acidentes ambientais como o vazamento de petróleo no Golfo do México. Uma economia verde deverá contabilizar os custos que a atividade empresarial impõe à sociedade e terá de lidar com eles. A riqueza, então, passará a ser medida com base no acúmulo de capital humano, natural e social, e não apenas físico.
Para diminuir o impacto ambiental da atividade econômica, será preciso reduzir o padrão de consumo da humanidade?
Nos países ricos, sim. Para uma pessoa rica, o consumo representa apenas acúmulo de bens. O morador de Saint-Tropez, na França, não está preocupado em poder comprar dois hambúrgueres ou um só, mas se o seu iate é maior do que o do vizinho. Que melhoria de qualidade de vida é essa? Isso é puro consumismo. A população dos países pobres, no entanto, ainda precisa elevar o seu padrão de vida. O acesso a alguns serviços públicos e a certas formas de riqueza depende do aumento do consumo. O desafio global é conseguir um equilíbrio no nível de bem-estar das populações.
Nos países ricos, a queda no consumo não levaria ao fim da inovação tecnológica?
O seu iPhone e o meu BlackBerry teriam um preço muito mais alto para o consumidor final se as empresas tivessem de pagar pelo impacto de despejar cinquenta ou sessenta produtos químicos na natureza ou pela reciclagem dos metais contidos no aparelho. Se o custo ambiental do produto fosse incluído no preço final, aí, sim, as empresas teriam de inovar. Atualmente, a inovação apenas tem substituído consumo por mais consumo. Isso é preguiça. A verdadeira inovação é fruto de limitações, de oportunidades e da engenhosidade humana. Celulares como o seu ou o meu podem até tornar a nossa vida mais fácil, mas uma terceira pessoa pode ter sofrido as consequências ambientais da produção desses aparelhos. Em uma economia verde, haverá ainda mais inovação, porque as empresas terão de descobrir uma maneira de fabricar os mesmos produtos sem poluir e substituindo determinados materiais por outros, mais sustentáveis.
Que papel os governos terão na transição para a economia verde? Os cidadãos não precisam de um estado-babá. Eu administro o meu próprio portfólio de investimentos, assim como cada indivíduo cuida do seu dinheiro. Como economista ambiental, há uma espécie que, na minha opinião, não precisa ser salva: a das empresas improdutivas e pouco sustentáveis. Os governos deveriam simplesmente deixá-las morrer. Precisamos, isso sim, de segurança na rua, de transportes públicos de qualidade e a custo decente, de ar puro para respirar. Tudo isso engloba o que eu chamo de riqueza pública, e a função dos governos é resguardá-la.
Como convencer os governos a adotar essa postura? Atualmente, os governos estão presos ao seguinte modelo: o crescimento do PIB influencia nos lucros corporativos, estes elevam o nível de arrecadação de impostos, que por sua vez alimenta o orçamento deficitário do estado. Uma maneira de sair desse círculo vicioso é mudar a taxação de recursos. Em vez de arrecadar impostos sobre a renda e os bens, como é feito hoje, seria melhor taxar os efeitos externos negativos da atividade empresarial. As alíquotas deveriam ser aplicadas sobre o uso dos recursos naturais e dos materiais. O modelo atual apenas incentiva o mau uso do capital.
Em entrevista à revista Veja, o economista Pavan Sukhdev afirma que: "A verdadeira inovação é fruto de limitações. Em uma economia verde, haverá ainda mais inovação, porque as empresas terão de fabricar os mesmos produtos sem poluir"
Em 2007, em um encontro do G8, o grupo dos oito países mais ricos do mundo, em Potsdam, na Alemanha, decidiu-se que era necessário criar um painel responsável por calcular o custo dos danos ao ambiente causados pelo homem. O indiano Pavan Sukhdev, economista sênior do Deutsche Bank, foi convidado para coordenar esse projeto, chamado de "A economia dos ecossistemas e da biodiversidade" (Teeb, na sigla em inglês) e vinculado ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.
O resultado será apresentado em outubro em uma conferência sobre biodiversidade em Nagoya, no Japão. Sukhdev concedeu a seguinte entrevista ao editor Diogo Schelp em São Paulo, onde participou de palestras para divulgar dados preliminares de seu estudo. Ele avalia que o prejuízo causado pela destruição do ambiente só pode ser revertido com uma transição para um sistema econômico mais sustentável. É o que Sukhdev chama de "economia verde".
Qual é o custo da destruição da natureza? A perda anual representa entre 2,5 trilhões e 4,5 trilhões de dólares. Nessa conta está incluída apenas a destruição das florestas, dos mananciais e da vegetação dos mangues. O cálculo foi feito com base no valor atual dos serviços que esses recursos naturais prestam ao homem, como ar puro, água doce, produtos florestais, turismo ecológico, potencial biológico das espécies, prevenção de inundações e controle de secas.
Quem mais perde com os danos ao ambiente?
Há quem pense que a defesa ambiental é um luxo para os ricos. A realidade é o oposto. A proteção da biodiversidade é uma necessidade para os pobres, principalmente os da zona rural. Eles sobrevivem dos benefícios diretos das florestas, dos recursos hídricos e do solo. Essa dependência se explica porque os pobres não têm muitos bens acumulados. Como têm pouca riqueza privada, precisam da riqueza pública, na forma de serviços ecológicos, para sobreviver. Se continuarmos no atual ritmo de destruição ambiental, em 2050 o prejuízo será equivalente a 7% do PIB mundial. Pode parecer pouco em relação à riqueza global, mas é muito se comparado aos benefícios e ao sustento que a natureza proporciona às famílias dos agricultores pobres. Por isso, acredito que a maneira certa de calcular o custo da destruição do ambiente é compará-lo não ao PIB, mas à renda da população pobre. Por esse critério, os prejuízos causados pelo mau uso dos recursos naturais representam entre 50% e 80% da renda dos pobres. Enquanto não mudarmos a maneira de fazer negócios, vamos continuar perdendo as vantagens dos serviços ambientais e, por consequência, prejudicando a sobrevivência da maior parcela da humanidade.
O que é preciso mudar na maneira de fazer negócios?
A visão dominante, hoje, é a da necessidade de escolher entre desenvolvimento e ambiente, ou entre riqueza e biodiversidade. Esses elementos não são intercambiáveis. Os empresários também podem ser prejudicados pela devastação ambiental. Há pelo menos três maneiras de convencê-los disso. A primeira é mostrar os riscos crescentes ao seu negócio. Se a empresa atua no setor agrícola, por exemplo, pode ter gastos mais elevados com fertilizantes e até perder a capacidade de produzir em determinada região se houver escassez de água causada pelo mau uso do recurso. A segunda maneira é revelar as oportunidades de negócio relacionadas à exploração sustentável da natureza. A indústria dos produtos orgânicos é um exemplo disso. Trata-se de um mercado que cresceu a um ritmo de 200% nos últimos quatro anos, no mundo todo. A terceira forma de eliminar a dicotomia entre desenvolvimento e ambiente é incentivar os empresários a explorar o potencial de uma nova área de inovação: a criação de tecnologias sustentáveis inspiradas em soluções da natureza. Em resumo, os empresários precisam começar a investir em capital natural, aquele formado pelos benefícios dos ecossistemas e da biodiversidade. Essa economia verde terá de substituir o modelo atual.
Por que o modelo econômico atual não é sustentável?
O mundo nunca se recuperou para valer da grande recessão do início dos anos 30. O modelo que nos tirou daquela situação, válido até hoje, surgiu após a II Guerra e era baseado no aumento da produção alimentada pelo consumo. O progresso econômico passou então a ser medido pelo crescimento do PIB (produto interno bruto), basicamente a soma de toda a riqueza produzida por uma nação. Desde então, estamos presos nesse esquema. Durante algum tempo, o progresso baseado no crescimento do PIB serviu a um bom propósito, porque elevou uma grande parcela da sociedade a um patamar de grande bem-estar. Atualmente, esse modelo é tão anacrônico quanto o transporte transoceânico de passageiros em navios. Nas últimas décadas, o mundo enfrentou quatro grandes recessões. Para o capitalismo voltar a funcionar, é preciso entender a riqueza como uma combinação do capital físico (produtos e serviços feitos pelo homem, bens monetários), do capital humano (saúde, educação, inteligência), do capital social (segurança nas ruas e outros elementos da convivência em sociedade) e do capital natural (a possibilidade de respirar ar puro e beber água limpa). O modelo de progresso econômico quantificado apenas pelo PIB é uma falácia. Estamos presos em um esquema que privilegia a quantidade contra a qualidade. Isso é ilógico.
O senhor pode dar um exemplo?
Basta analisar a questão dos subsídios. Atualmente, a indústria do petróleo recebe mais de 300 bilhões de dólares por ano para subsidiar preço e produção. Qualquer cidadão sabe que os combustíveis fósseis estão entre os maiores culpados pelo aquecimento global. Apesar de ser antieconômica e poluente, a exploração de petróleo e derivados é sustentada com dinheiro público. A pesca recebe 27 bilhões de dólares anuais de ajuda, o que representa um terço do faturamento global da indústria pesqueira. O resultado disso é que os estoques de peixe nos oceanos estão entrando em colapso. Esse é um exemplo claro da falta de lógica da busca inconsequente pelo aumento da produção.
Como o setor financeiro pode lucrar em uma economia verde?
Os bancos correm para os setores onde estão os negócios mais bem-sucedidos. Em uma economia verde não será diferente. As empresas com o melhor retorno financeiro, aquelas com maior estabilidade e bom padrão de crescimento, serão sempre privilegiadas pelos banqueiros. Se o meu acionista quer o melhor desempenho com os riscos mais baixos possíveis, por que não investiria em empresas verdes, sustentáveis?
Como o senhor define a economia verde?
Trata-se de um modelo econômico que reduz o risco de escassez ecológica e dano ambiental. Estima-se que o impacto da atividade das 3 000 principais corporações do mundo na mudança climática, nos recursos hídricos, no desperdício de material e na poluição tenha um custo de 2,25 trilhões de dólares por ano. Isso representa 3% da economia global e não inclui acidentes ambientais como o vazamento de petróleo no Golfo do México. Uma economia verde deverá contabilizar os custos que a atividade empresarial impõe à sociedade e terá de lidar com eles. A riqueza, então, passará a ser medida com base no acúmulo de capital humano, natural e social, e não apenas físico.
Para diminuir o impacto ambiental da atividade econômica, será preciso reduzir o padrão de consumo da humanidade?
Nos países ricos, sim. Para uma pessoa rica, o consumo representa apenas acúmulo de bens. O morador de Saint-Tropez, na França, não está preocupado em poder comprar dois hambúrgueres ou um só, mas se o seu iate é maior do que o do vizinho. Que melhoria de qualidade de vida é essa? Isso é puro consumismo. A população dos países pobres, no entanto, ainda precisa elevar o seu padrão de vida. O acesso a alguns serviços públicos e a certas formas de riqueza depende do aumento do consumo. O desafio global é conseguir um equilíbrio no nível de bem-estar das populações.
Nos países ricos, a queda no consumo não levaria ao fim da inovação tecnológica?
O seu iPhone e o meu BlackBerry teriam um preço muito mais alto para o consumidor final se as empresas tivessem de pagar pelo impacto de despejar cinquenta ou sessenta produtos químicos na natureza ou pela reciclagem dos metais contidos no aparelho. Se o custo ambiental do produto fosse incluído no preço final, aí, sim, as empresas teriam de inovar. Atualmente, a inovação apenas tem substituído consumo por mais consumo. Isso é preguiça. A verdadeira inovação é fruto de limitações, de oportunidades e da engenhosidade humana. Celulares como o seu ou o meu podem até tornar a nossa vida mais fácil, mas uma terceira pessoa pode ter sofrido as consequências ambientais da produção desses aparelhos. Em uma economia verde, haverá ainda mais inovação, porque as empresas terão de descobrir uma maneira de fabricar os mesmos produtos sem poluir e substituindo determinados materiais por outros, mais sustentáveis.
Que papel os governos terão na transição para a economia verde? Os cidadãos não precisam de um estado-babá. Eu administro o meu próprio portfólio de investimentos, assim como cada indivíduo cuida do seu dinheiro. Como economista ambiental, há uma espécie que, na minha opinião, não precisa ser salva: a das empresas improdutivas e pouco sustentáveis. Os governos deveriam simplesmente deixá-las morrer. Precisamos, isso sim, de segurança na rua, de transportes públicos de qualidade e a custo decente, de ar puro para respirar. Tudo isso engloba o que eu chamo de riqueza pública, e a função dos governos é resguardá-la.
Como convencer os governos a adotar essa postura? Atualmente, os governos estão presos ao seguinte modelo: o crescimento do PIB influencia nos lucros corporativos, estes elevam o nível de arrecadação de impostos, que por sua vez alimenta o orçamento deficitário do estado. Uma maneira de sair desse círculo vicioso é mudar a taxação de recursos. Em vez de arrecadar impostos sobre a renda e os bens, como é feito hoje, seria melhor taxar os efeitos externos negativos da atividade empresarial. As alíquotas deveriam ser aplicadas sobre o uso dos recursos naturais e dos materiais. O modelo atual apenas incentiva o mau uso do capital.
sábado, 12 de junho de 2010
Bancos Centrais devem ter outras funções ademais da estabilidade?
O Board do FED, em Washington, DC, EUA.
O FED tem também o objetivo de buscar o "pleno emprego" dos fatores na economia, entretanto só persegue o "pleno emprego" tendo assegurado antes a estabilidade.
Na maior parte dos países economicamente relevantes, a principal missão da Autoridade Monetária é garantir a estabilidade de preços, evitando a desvalorização da moeda. Isso representa, em última instância, proteger a sociedade, impedindo a transferência de riqueza da população para o governo por intermédio de processos inflacionários, conhecida, como “Senhoriagem”.
A tendência mundial nas décadas de 1990 e 2000 foi a de manter os BCs focados em seu objeto principal: política monetária.
Em relação à regulação e supervisão do sistema financeiro, a partir da necessidade que se teve de uma atuação intensa dos bancos centrais no enfrentamento da crise de 2007-2010 (2011? 2012?), passou-se a rediscutir se a autoridade monetária deve, ademais da política monetária e da preservação da estabilidade financeira, exercer também esta função e com qual grau de envolvimento. A tendência passou a ser a de que os bancos centrais exerçam supervisão e regulação de instituições que representem risco sistêmico, dado o potencial impacto na economia. As instituições menores e as não bancárias poderiam ser deixadas sob supervisão e regulação de agências que não os bancos centrais.
A crise também evidenciou a necessidade de uma instituição com missão explícita de ser Regulador de Risco Sistêmico – RRS. BLINDER (2010) defende que a instituição mais apta a exercer esta função é o banco central – e de um aprofundamento das reformas na arquitetura financeira internacional para salvaguardar a estabilidade em um cada vez mais integrado sistema financeiro mundial.
É certo que se deve buscar um sistema financeiro competitivo e inclusivo. Mas de nada adiantará diversas instituições inclusivas e competitivas se o sistema estiver frágil e passível de uma crise que contamine toda a economia...
Nosso BCB não aderiu à tendência de retirar a supervisão de suas atribuições. A crise 2007-201? mostrou ter sido acertada esta medida uma vez que a instituição pode ter uma ação mais efetiva de enfrentamento da crise.
Ficam algumas perguntas:
- Quais devem ser as funções do BCB?
- Ademais da prioridade à estabilidade (sobre isso quase não há contestação com embasamento), quais poderiam ser os outros objetivos que o BCB poderia perseguir?
Estrela - 11/06/2010.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
MEGA KISSES EM BREVE AQUI!!!
A noite do MEGA foi das mais animadas! O Amor e a Amizade estavam no ar! Momentos a recordar...
terça-feira, 1 de junho de 2010
Planejamento Estratégico dos Elevadores do Ed. Central Pinheiro
De repente as portas dos elevadores da Adsal estavam revestidas com uma bela gravura que parecia antever melhores dias, ou pelo menos difíceis para os passageiros. Estaria sendo planejada a importação dos elevadores inteligentes de Brasília?
Sempre achei que mereceríamos elevadores menos lentos como também menos problemáticos, mas vamos por partes, Brasília não iria despachar seus elevadores inteligentes sem substituí-los por outros mais geniais. Sim, a central de inteligência está em Brasília, isto é evidente, mas, como anunciava o painel, eram planos para o futuro, até 2014, juntos na mesma direção, isto fazia todo o sentido.
Pensativo, entrei no elevador e apertei o botão 5. O elevador subiu e parou. Entrou um segurança, cumprimentou-me e o elevador desceu. Fui parar no térreo novamente. Saltei e aproveitei para olhar mais detidamente o painel para ver se descobria mais detalhes sobre a estratégia.. Que poderia fazer um elevador além de subir e descer? Alguma coisa estranha estava por acontecer porque o “S” de subir estava apontando para baixo e um “N” apontando para cima! De que seria o “N”, de Não, não vai mais? Quando e por que? E qual segredo estava por trás do “L” e do “O” Os elevadores andariam de lado a partir de 2014? Estava atingindo o ápice do desespero. O elevador da esquerda estava na performance de seu velho hábito de fechar e abrir as portas pelo menos 15 vezes antes de partir para cima ou para baixo. Quando resolvia partir para baixo voltava cheio de sacos de malote e mais pessoas com ares de saco cheio e voltava o hábito de abrir e fechar de portas sem decisão. Quando pensei em desistir, alguém me socorreu com um encarte. Abri. Quatro pessoas da foto pareciam rir da minha cara, do outro lado escrito “Um olhar para o futuro.” Ri de volta, porque no futuro não vai ter mais papel.
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