terça-feira, 16 de abril de 2013

A China abraça a austeridade e o crescimento desacelera

 

Por James T. Areddy e Tom Orlik | The Wall Street Journal, de Xangai
 
O construtor Sun Ping, de Xangai, lembra-se de ter colocado à venda um bloco de moradias em 2006, época em que os compradores faziam fila durante a noite toda e chegavam a pagar por lugares nessas filas. Ele vendeu 62 casas em três horas e calcula que os compradores rapidamente viram seus investimentos triplicar de valor.
"Aquela era uma época milagrosa", disse ele. Um recente lançamento que ele organizou atraiu apenas um punhado de potenciais compradores.
Os dias milagrosos acabaram na China, a segunda maior economia mundial. Uma limpeza está em curso, seguindo uma festa econômica de proporções épicas que aumentou a renda, mas deixou para trás dívida, corrupção e efeitos nefastos no meio ambiente.
Após três décadas de uma média de crescimento econômico em torno de 10%, muitas indústrias estão experimentando menos dias de glória e mais estagnação.
O ímpeto perdido ficou evidente ontem. O crescimento no produto interno bruto desacelerou para 7,7% no primeiro trimestre na comparação anual, inferior ao 7,9% registrado no último trimestre do ano passado, segundo o Instituto Nacional de Estatística da China.
O crescimento das vendas no varejo recuou para 12,6% no mês passado na comparação anual, abaixo dos 15,2% registrados no fim de 2012. A produção industrial também perdeu o brilho em março, numa prova de que a recuperação vista no fim de 2012 pode estar perdendo fôlego.
A China continua a ser uma das economias do mundo que cresce mais rápido, mas ela enfrenta uma dolorosa desaceleração no crescimento anual, que atingiu o pico de 14,2% em 2007. Dois motores confiáveis do crescimento - a demanda pelos produtos chineses no exterior e investimentos acelerados no mercado doméstico - têm avançado mais lentamente desde então.
Pouco antes de se tornar presidente, Xi Jinping definiu o tom para a redução do ritmo com ações que pareciam equiparar indulgência com corrupção. Durante uma visita à província de Hubei, ele decidiu não desfrutar os benefícios do cargo e se hospedou em um hotel de pequeno porte. O menu de uma de suas refeições era composto apenas de quatro pratos e uma sopa.
A humildade de Xi teve o efeito de um cânone religioso. Para evitar parecerem corruptos, autoridades de baixo escalão de repente passaram a evitar hotéis cinco estrelas, assim como iguarias exóticas e caras como sopa de ninho de passarinho e até frutas, segundo gerentes de restaurantes e hotéis.
Uma tolerância menor com relação às extravagâncias de altos funcionários do governo "pode ser o principal fator" do crescimento menor no trimestre, de acordo com Lu Ting, economista para a China do Bank of America Merrill Lynch, já que 10 milhões deles possuem cartões de crédito emitidos pelo governo que, na média, têm gastos anuais de US$ 5.800, e juntos somam US$ 58 bilhões, de acordo com a empresa de pesquisa Emerging Asi a Group, de Xangai.
Um indicador do aperto foi a queda de 94% no preço de um peixe amarelo chamado dao yu, ou peixe-faca. Dois anos atrás, essa iguaria do rio Yangtze era vendida no atacado por mais de US$ 220 a unidade. Ele agora custa US$ 13.
A nova onda de austeridade também está desaquecendo os mercados de arte, bebida, entretenimento e vestuário.
Quando o designer italiano Giorgio Armani inaugurou sua principal loja na China, em 2004, ele exaltou Xangai como sendo "a cidade mais comentada do mundo". Antes de fechar recentemente a loja, às margens do rio Bund, Armani disse à revista de moda "Women's Wear Daily" que se tratava de uma "área que mudou", ficando menos atraente para os consumidores.
Uma grande tendência para o luxo no país ainda gira em torno dos produtos da Louis Vuitton e Hermès, mas eles estão sendo vendidos em segunda mão por pessoas precisando de dinheiro.
O humor azedado se manifesta também na arte chinesa. Os retratos grandes e brilhantes do pintor Fang Lijun caracterizavam antes uma era de frivolidade. Agora, o que está em voga são as telas de pintores como Wang Taocheng, cujos desenhos mostram vizinhos brigando por dinheiro.
A campanha de frugalidade surge em meio a um amplo reconhecimento de que será difícil a China repetir tamanha escala de expansão econômica. A produção total de bens e serviços na China no ano passado foi quase nove vezes maior que em 1990.
Em pouco menos de dez anos, as construturas na capital comercial do país, Xangai, construíram cerca de 240 milhões de metros quadrados de espaço residencial, o equivalente a quatro vezes a ilha de Manhatana. Os preços médios aumentaram em 3,6 vezes, segundo a empresa que faz avaliação de imóveis Shanghai Urban Real Estate Surveyors-Appraisal Co.
"Esses são tempos complicados", diz o construtor Sun em relação à cautela dos compradores.
No início de maio, a empresa de Sun, a Shanghai Jingsheng Real Estate Development Co., fez o lançamento da Aromatic Villa, um novo condomínio fechado, com alguns imóveis com elevadores privados, adegas e fontes. Os preços iam de US$ 1,2 milhão a US$ 2,2 milhões. O interesse de compradores foi fraco.
A China deve reduzir seu crescimento anual para 8% a 8,5% nos próximos anos, segundo estimativas do Fundo Monetário Internacional. Outros economistas consideram a previsão muito alta. Eles alertam que a China está emprestando muito para sustentar o crescimento e se arriscando a criar uma bolha de crédito.
O crescimento fraco no primeiro trimestre ocorreu apesar de empréstimos recordes concedidos por empresas de financiamento, que somaram 6,1 trilhões de yuans, o equivalente a US$ 1 trilhão. Mais crédito, mas crescimento mais lento sugere que o dinheiro novo está gerando menos benefício econômico.
O setor de manufatura da China está pagando salários mais altos à medida que o número de trabalhadores rurais diminui e empregados lutam por seus direitos, o que reduz a vantagem competitiva que inicialmente alimentou muitas empresas. No primeiro trimestre de 2013, os salários para os trabalhadores migrantes subiu 12,1% ante o ano anterior, superando a taxa de crescimento da economia.
Pequim espera que o aumento da renda familiar gere mais consumo para tornar a economia menos dependente dos investimentos e das exportações. O consumo contribuiu 4,3 pontos percentuais para o crescimento da China no primeiro trimestre, em comparação com 2,3 pontos percentuais de investimento, disse Sheng Laiyun, porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas. "Agora podemos dizer o consumo tornou-se o principal motor de crescimento", disse ele.

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