Márcio Estrela diz:
Um processo inflacionário significa a perda de valor da moeda. A desvalorização da moeda em posse das pessoas tem como contrapartida uma desvalorização equivalente nas obrigações de seu emissor (quase sempre o governo), representando, na prática, a transferência de riqueza da sociedade para o governo. Essa transferência é conhecida como “Senhoriagem”/Imposto Inflacionário.
A atuação decisiva do Banco Central do Brasil em prol da estabilidade monetária representou a redução das transferências da sociedade para o governo. O período entre 1965 e 2004 retrata bem essa evolução, mostrando que a redução da inflação levou a uma correspondente redução do montante de riqueza apropriada da sociedade por intermédio da “Senhoriagem”.
A redução da inflação levou a que a “Senhoriagem”, que era de 5,51% do PIB em 1989, fosse para 0,62% do PIB em 2004, uma queda de 4,89% do PIB. Apenas para ilustrar, tendo por base o PIB de 2009 de USD1,577 trilhões, esses 4,89% equivaleriam a um montante de USD77,3 bilhões que seriam apropriados pelo governo como “Senhoriagem”. Em função do controle da inflação pelo Banco Central, esses recursos permaneceram em poder da população e dos agentes econômicos.
Uma vez mais, a atuação decisiva do Banco Central do Brasil em prol da estabilidade monetária viabilizou, ainda, um crescimento do rendimento real médio, possibilitando um aumento de renda dos salários quase nunca observável em períodos de inflação elevada[1]. Os maiores beneficiados nesse processo são os trabalhadores que dependem de seus salários para subsistência.
Esses resultados apenas reforçam a necessidade de o Banco Central do Brasil perseverar na manutenção da estabilidade monetária como forma de proteger a sociedade, em especial a população de menor renda.
[1] Crescimento de rendimento real médio com inflação elevada só é constatável no curto prazo, tendendo a ser neutralizado no longo prazo.
Cálculo da Senhoriagem por: JALORETTO, Cláudio; SENHORIAGEM E FINANCIAMENTO DO SETOR PÚBLICO (Dissertação de Mestrado em Economia do Setor Público); UNB; Brasília; 08/07/2005.
ESTRELA, M.A.; (2010), “Moeda, Sistema Financeiro e Banco Central – Uma Abordagem Prática e Teórica sobre o Funcionamento de uma Autoridade Monetária no Mundo e no Brasil”; Cesgranrio; Rio de Janeiro: 2010.
Meu caro Estrela,
ResponderExcluirHá uma porção de valores somente construídos a partir da vida em sociedade.
Um deles é o fato de que "os bancos criam riquezas do nada" (Schumpeter).
Todavia, não é bem assim: somente a partir da confiança que a sociedade tem em suas instituições (principalmente o Estado, grande garantidor da Moeda) é que os bancos criam moedas e, sobre estas, ganham... ganham muito.
O BC, "planilhando" como sempre, decide que sua ação segura a inflação; pergunto: teremos, este ano, um crescimento não muito diferente de 2008 quando a Selic estava em decréscimo e a capacidade instalada não é muito diferente da existente naquele ano; assim, não vejo alarde que justifique uma eveentual retomada do processo inflacionário.
Perdão, mas não enxergo esta extraordinária sensibilidade em prol da sociedade; se a açõa do BC pode ser virtuosa para a "dessenhoriagem", importa sublinhar que não necessariamente isso rebate como um benefício para a sociedade "latu senso", mas para os rentistas que sempre ganham na chuva ou no sol.
Mas não sou economista; isto é contigo; aapenas não sobrevalorizo o importante papel do BC; só.
Abraço,
Idalvo
Pois é Estrela,
ResponderExcluirClaro que essa é a maior missão do Bacen. A questão é que ele tem que ter muito cuidado com a dosagem do remédio que ele tem usado (taxa de juros) pois se ele erra a mão e a dosagem for muito alta seu efeito colateral pode ser mais danoso que os benefícios que poderia trazer.
Assim como o Idalvo, também não sou economista. Ao ler a sua nota e a dele fiquei com a pulga atrás da orelha também. E se na conta que você fez, para mostrar o quanto a sociedade 'economizou' com a senhoriagem, incluíssemos os juros que o estado pagou aos rentistas, ao final, será que ela realmente teve uma economia?
Acho que, na verdade, o BC, ao impor à sociedade a taxa de juros mais alta do mundo para rolar a dívida do Estado, transforma o que poderia ser uma economia com o imposto inflacionário numa gorda despesa com o pagamento de juros astronômicos. Ou seja, o que poderia ser realmente um instrumento que se reverteria em grande benefício à sociedade, como você bem mencionou, se mal dosado acaba se transformando num pesado encargo para a mesma. Será que algum economista poderia fazer essa conta para nós?
Abraço,
Gregório.