quarta-feira, 28 de abril de 2010

DEU NO JB 29/10/1995


Brasília – Todos os dias, Guilherme de Pádua e Lorena Bobbit duelam nos computadores do Sisbacen, o sistema de controle de dados do Banco Central. O ator acusado de matar Daniela Perez e a americana que cortou o Pênis do marido deram nome a dois dos mais movimentados grupos de troca de mensagens na Starnet, uma rede de informações criada por técnicos do BC no sistema de computação do Banco, e que já tem mais de 400 assinantes. Além de abrigar uma guerra dos sexos, a rede serve para discussão de problemas do Banco, mobilização de funcionários e troca de torpedos amorosos entre colegas de trabalho.
A starnet foi criada há um ano, aproveitando um dos recursos do Sisbacen: a troca de mensagens pessoais entre usuários. O principal uso da rede é para mobilização dos funcionários. Foi usando a Starnet que eles organizaram em meia hora, o abraço ao prédio do BC, com o qual mostraram solidariedade à instituição que sofria duros ataques do senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA) por causa da intervenção do Banco Econômico.
A rede não serve apenas para debates sérios. Também foram criados grupos para troca de mensagens sobre assuntos específicos. O grupo Guilherme de Pádua, que pode mudar para grupo OJ. Simpson na próxima semana, acolhe apenas provocações machistas. Nem sempre originais. Esta semana, uma mensagem anunciava que a vida de mulher tem três fases: “Até os 20 anos, alguns homens prestam. Dos 20 aos 30 anos, nenhum homem presta. Depois dos 30, qualquer homem serve”, dizia o provocador.
As respostas vêm pelo grupo Lorena Bobbit, destinado ás mulheres. Assim que enviou a mensagem acima, o provocador foi saudado por outra, que dizia que ele tinha deixado a idade do lobo para entrar na idade do condor: “Com dor nas costas, com dor nos rins...” Na rede do Banco Central, piada velha se paga com piada velha.
‘Azaração’ – Homens e mulheres não ficam apenas se enfrentando na rede. O sistema de troca de mensagens é considerado um eficiente e discreto meio de paquera. A troca de torpedos com cantadas informatizadas, é comum e já provocou o início de vários romances entre os funcionários. Um dos técnicos envolvidos na rede, que pede para não ser identificado, garante já ter vivido três romances em um ano usando a Starnet.
O sistema também serve para veicular piadas sobre os diretores do BC. O mais visado é o diretor de Administração, Carlos Eduardo Tavares. Criticado pelos funcionários por endurecer as negociações salariais, ele é vítima de ataques constantes na rede, onde é conhecido como Dudu. Trocadilhos com o nome do presidente do BC, Gustavo Loyola, também são comuns, e remetem a termos típicos do Nordeste.
Claro que isto só acontece porque os chefes não têm acesso às mensagens trocadas pelos funcionários. O sigilo é protegido pelo Sisbacen, um dos mais fechados sistemas de informática do governo, onde circulam informações confidenciais sobre operações bancárias e de câmbio. Mesmo assim, o sistema já provocou reação de alguns chefes, para quem a troca de mensagens irreverentes compromete a austeridade do Banco Central.
A starnet conseguiu se manter com base em dois argumentos. Para começar, não tem custo nenhum para o BC. Enviar mensagens pessoais é a última prioridade do Sisbacen, que só cumpre essa tarefa quando não há outros serviços do banco a executar. Além disso, o banco avalia que o sistema ajuda a criar uma “identidade funcional” entre empregados. Esta identidade apareceu no abraço ao banco, que uniu os funcionários do BC à diretoria contra os ataques de Antônio Carlos Magalhães. (Gustavo Krieger)

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