quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Religião


O que é religião? Um conjunto de crenças e dogmas pode ser chamado de religião?

A religião surgiu por causa do medo ou o medo existe independentemente da religião? O religioso tem menos medo ou o medo independe da qualidade de ser religioso?

A religião avança no campo da ciencia ou a ciencia avança no campo da religião?

Creio que são perguntas altamente pertinentes.

A religião pode ser definida tal qual a yoga, ou seja a ligação do maior ou mais elevado com o menor, a ligação dos mundos material e espiritual.

Claro que para os materialistas ou os que não podem perceber a existência de um mundo incorpóreo, esta definição é totalmente inútil.

Também temos que separar religião de crença. Ser religioso não significa acreditar em céu, inferno reencarnação ou o que seja.

Por que temos crenças?

É bom lembrar que Betrand Russell viveu em uma época em que a ciência despontava como a solucionadora de todos os problemas, a salvadora e milagrosa arte em que a ignorãncia de quem somos e para onde vamos seriam questões resolvidas.

Mas isso não ocorreu, como também parece bem pouco provável que ocorra. A ciência teima em escorregar e fugir ao cerne da questão. Resolveu, por conta própria a seguir por outras vias de bem menos responsabilidade existencial, digamos assim.


Bertrand Russell errou em suas previsões, e podemos bem desculpá.lo pelo seu erro. Ele falava em catolicismo. mas o catolicismo se fragmentou em inúmeras outras seitas em que Jesus te ama e te salva e as coisas ainda mais confusas.


O pior é que o processo de fragmentação continua.


Está claro que nem ciência nem religião conseguiram debelar o medo e a enorme confusão em que vive a humanidade.



A religião baseia-se, penso eu, principamente e antes de tudo, no medo.

É, em parte, o terror do desconhecido e, em parte, como já o disse, o desejo de sentir que se tem uma espécie de irmão mais velho que se porá de nosso lado em todas as nossas dificuldades e disputas.

O medo é a base de toda essa questão: o medo do mistério, o medo da derrota, o medo da morte.

O medo é a fonte da crueldade e, por conseguinte, não é de estranhar que a crueldade e a religião tenham andado de mãos dadas.

Isso por que o medo é a base dessas duas coisas. Neste mundo, podemos agora começar a compreender um pouco as coisas e a dominá-las com a ajuda da ciência, que abriu caminho, passo a passo, contra a religião cristã, contra as Igrejas e contra a oposição de todos os antigos preceitos.

A ciência pode ajudar-nos a superar esse medo pusilânime em que a humanidade viveu durante tantas gerações. A ciência pode ensinar-nos, e penso que também os nossos corações podem fazê-lo, a não mais procurar apoios imaginários, a não mais inventar aliados no céu, mas a contar antes com os nossos próprios esforços aqui embaixo para tornar este mundo um lugar adequado para se viver, ao invés da espécie de lugar a que as igrejas, durante todos estes séculos, o converteram.

Digo, com toda convicção, que a religião cristã, tal como se acha organizada em suas Igrejas, foi e ainda é a principal inimiga do progresso no mundo.

(Bertrand Russel, in 'Porque não sou Cristão'.)

(QUESP/CONRADO)


Prezado Conrado:



Parece inteligente esse comentário do Bertrand Russel. O mais interessante, a meu ver, é que a ciência tem progredido assustadoramente mas o medo continua a assombrar mentes e corações. Por que os consultórios dos psicólogos e psiquiatras estão cheios? Por que se vende tanta literatura de auto-ajuda? Por que tanta depressão? Por que tantos se dizem espiritualistas hoje? Concluo, numa análise rápida, que as pessoas estão mais temerosas de que em tempos passados. Ou não? O que então explica isso? Não sei se Bertrand respondeu. Quem arrisca um palpite?

Abraço,

Adalberto.

Caro Adalberto,

Pra tantos porquês, só existe uma resposta: porque o ser humano é inviável. Razão e emoção são absolutamente inconciliáveis.

QUESP/CONRADO



Digo, com toda convicção, que a religião cristã, tal como se acha organizada em suas Igrejas, foi e ainda é a principal inimiga do progresso no mundo.”



Trata-se de um comentário muito pouco inteligente do Russel.



A religião afirma a criação, a ciência simplesmente descreve, muito simplificadamente, os fenômenos.



Exemplo: a água, quando aquecida a 100 graus celcius – escala arbritrária concebida pelo epigrafado – torna-se gasosa. O que há de explicação nisso? Afinal de contas, a ciência já nos explicou por que a água existe? A melhor solução para o homem é afirmar que a água existe por que DEUS criou a água e o universo. Sim, mas quem criou DEUS?

Ora, muito fácil: DEUS existe, e ponto final.

Jairo Santos Cabral


Mas, esta explicação existe há 10 mil anos. Nesse ínterim foram criadas milhares de religiões e outras teorias filosóficas, sucedendo-se umas às outras, cada uma evoluindo com base no conhecimento anterior. Agora, andamos em círculo? Os conhecimentos adquiridos pela ciência de nada valem? E qual dos centenas de deuses existentes ainda hoje devemos adorar? Qual é o verdadeiro? O meu, o teu ou o do vizinho?

Ainda prefiro B.Russel.

pedro.farias





quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Vamos ao que interessa?

FSP – 1ºago2010 – ELIANE CANTANHÊDE - Vamos ao que interessa?

BRASÍLIA - Até agora, o que se vê, lê e ouve é Dilma e o PT dizendo que José Serra deslizou para a direita e vai ter "um fim melancólico", e José Serra chamando Dilma e o PT de "trogloditas de direita" por apoiarem o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad.
Um candidato chama o outro de feio, de chato, de bobo, de direitista, numa profusão de adjetivos pejorativos. E nós com isso?
Enquanto eles ficam nesse rame-rame, o Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulga relatório colocando o Brasil no terceiro pior nível de desigualdade de renda do mundo, melancolicamente empatado com o Equador. Aliás, dos 15 países com maior concentração de renda, dez são da América Latina.
Enquanto os candidatos trocam adjetivos e quebram a cabeça com estratégias mirabolantes e pegadinhas espertas, fica-se sabendo que o Brasil tem uma nota anual de 4,6 no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e que muito dificilmente vai atingir a meta de chegar à nota 6 em 2021.
E, enquanto eles pensam em cabelo, maquiagem, empostação de voz e qual a próxima maldade contra o adversário, vem a informação de que 8 milhões de eleitores são analfabetos e 19 milhões declararam saber ler e escrever, mas nunca pisaram numa sala de aula.
A pior situação é no Nordeste, mas é chocante por toda a parte. Dê um pulo ali na escolinha de Sobradinho dos Melo, a meia hora do centro da capital da República, e pergunte quantos pais e mães sabem ler e escrever...
Quando o dado do analfabetismo saiu do TSE e inundou o país de vergonha, o que se perguntou é se o analfabeto (um a cada cinco eleitores) tem discernimento para votar. Mas a pergunta é outra: como os candidatos e candidatas pretendem tornar o país mais justo e quitar essa dívida com os cidadãos?
A resposta não comporta adjetivos e sim compromisso.

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Sakineh, ou a sordidez eleitoreira de Lula por Marcos Guterman

erick.wolff


Sakineh, ou a sordidez eleitoreira de Lula por Marcos Guterman


31.julho.2010 18:31:05

O presidente Lula ainda não sabe o que fazer com a influência internacional que supõe ter, a julgar pelas suas reações no caso da iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani.
Pior: confirmou a sensação de que cada gesto seu é fruto de cálculo político, e não de convicção moral.

Primeiro, ele se negou a aderir à campanha que busca impedir a morte de Sakineh por apedrejamento – ela foi condenada no Irã por suposto “adultério”.

Argumentou que um presidente brasileiro não pode interceder em favor de condenados no Irã, a não ser que esses condenados sejam brasileiros ou de um terceiro país. Desconsiderando-se o fato de que Lula é aliado do regime dos aiatolás e que já justificou inclusive a perseguição aos dissidentes políticos iranianos, o argumento do presidente é correto.

Não se tem notícia, por exemplo, de que o presidente dos EUA, Barack Obama, tenha aderido a qualquer campanha por Sakineh. Com seu jeito deselegante e confuso, Lula criticou a condenação da iraniana, mas considerou que interceder em seu favor seria “avacalhação”.

Em época de eleição, porém, tal declaração obviamente ganhou repercussão negativa. Por essa razão, Lula tentou mostrar que está sensibilizado pelo caso de Sakineh e que agora quer ajudá-la. Ele tocou no assunto neste sábado, durante comício em Curitiba, e o que se viu foi uma série de gafes, distorções e tentativas patéticas de reverter um episódio que lhe pareceu desfavorável.

Em primeiro lugar, Lula escolheu um comício eleitoral para fazer suas considerações, o que dá a dimensão da seriedade com que ele está tratando o caso. Se a diplomacia brasileira é “silenciosa”, como se gabam Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia, o que dizer desse arroubo lulista em cima de um palanque?

Em segundo lugar, Lula, mais uma vez, parece demonstrar imensa insensibilidade para o sofrimento dos prisioneiros de regimes despóticos e violadores de direitos humanos que agora são parceiros comerciais e políticos do Brasil. Ao se referir a Sakineh, Lula declarou que, “se essa mulher está causando incômodo” ao Irã, ele a ajudaria.

“Causando incômodo”? Sakineh foi condenada sob a acusação de ter traído o marido. Não teve direito a ampla defesa e seu julgamento foi um claro exemplo do estado deplorável da Justiça iraniana dirigida por fanáticos religiosos. Sem falar da sentença – ela morrerá sentido dores indescritíveis, apedrejada num ritual macabro de “justiça”. Seu caso não causa nenhum “incômodo” aos aiatolás; causa “incômodo”, sim, à consciência e aos valores morais e humanitários universais.

Lula, porém, parece ter levado seu pragmatismo cínico ao ápice da desumanidade. Em Cuba, comparou os presos políticos a bandidos comuns; agora, quando resolveu falar do caso de Sakineh, foi para tentar atrair dividendos políticos. No palanque, ao lado de Dilma Rousseff, ele discursou: “Já que minha candidata é uma mulher, eu queria fazer um apelo ao meu amigo Ahmadinejad, ao líder supremo do Irã e ao governo do Irã”.
Ora, se o candidato de Lula fosse homem, então ele não interviria? E o que o fato de seu candidato ser uma mulher tem a ver com Sakineh e seu sofrimento? A única resposta possível a essas perguntas é: Lula está simplesmente tentando capitalizar o hediondo caso iraniano a favor de sua candidata. Nem mais, nem menos.

É sórdido demais.

Tags: Irã, Lula, política externa brasileira